Último refúgio
Chico de
Assis
Quando na estação central
seus trens e pássaros metálicos
convidavam à liberdade
eu olhava de um salão
intermuros murmúrios
a vida passando
ao largo e ao longe.
Eram sonhos
entesourados
na bolsa da juventude
revoltas inquietudes
mitigadas na solidão
do cárcere que espezinhava
parcelas do nosso povo
amor brotando de novo
em tendas de ansiedade
batendo louco em paredes
em túneis que não se abrem
em vidas que se esvaziam
por entre torres
e sabres.
Ah, era o tempo da História
brincando com seus atores
teatro enorme de luzes
opacas sem refletores
a se perderem no rio
que a correnteza agitava
é que a todos marcava
com suas águas barrentas
que nunca inundavam a ponte
pela opressão sustentada
e nem quebrava os grilhões
da gente que a circundava.
Havia então um país
é um povo em dura labuta
camponeses peregrinos
operários sem batutas
estudantes cujo hino
nacional cantarolavam
em pelejas pelas ruas
feitas de pedra e calçada
que arrebentavam cabeças
no meio da enxurrada
de tiros gritos e homens
deserdados da alegria
tecidos pela miséria
fornidos na útopia
que a todos realentava
e na manhã sucumbia.
Ah, são fracas as forças
e fortes as estruturas
que em luta se digladiam
na vespertina lembrança
do homem só
sem guarida
que dá a volta no tempo
em sua esperança última
refém de sua agonia
e olhando a estação central
sem pássaro sem trem
sem sonho sem fantasia
sente a inclemência do sol
e aterrado ao chão
no nada se refugía.
(De um dia qualquer de 1994, poema iniciado em frente à Casa da Cultura — antiga Casa de Detenção do Recife — sob um sol inclemente do meio-dia).
seus trens e pássaros metálicos
convidavam à liberdade
eu olhava de um salão
intermuros murmúrios
a vida passando
ao largo e ao longe.
Eram sonhos
entesourados
na bolsa da juventude
revoltas inquietudes
mitigadas na solidão
do cárcere que espezinhava
parcelas do nosso povo
amor brotando de novo
em tendas de ansiedade
batendo louco em paredes
em túneis que não se abrem
em vidas que se esvaziam
por entre torres
e sabres.
Ah, era o tempo da História
brincando com seus atores
teatro enorme de luzes
opacas sem refletores
a se perderem no rio
que a correnteza agitava
é que a todos marcava
com suas águas barrentas
que nunca inundavam a ponte
pela opressão sustentada
e nem quebrava os grilhões
da gente que a circundava.
Havia então um país
é um povo em dura labuta
camponeses peregrinos
operários sem batutas
estudantes cujo hino
nacional cantarolavam
em pelejas pelas ruas
feitas de pedra e calçada
que arrebentavam cabeças
no meio da enxurrada
de tiros gritos e homens
deserdados da alegria
tecidos pela miséria
fornidos na útopia
que a todos realentava
e na manhã sucumbia.
Ah, são fracas as forças
e fortes as estruturas
que em luta se digladiam
na vespertina lembrança
do homem só
sem guarida
que dá a volta no tempo
em sua esperança última
refém de sua agonia
e olhando a estação central
sem pássaro sem trem
sem sonho sem fantasia
sente a inclemência do sol
e aterrado ao chão
no nada se refugía.
(De um dia qualquer de 1994, poema iniciado em frente à Casa da Cultura — antiga Casa de Detenção do Recife — sob um sol inclemente do meio-dia).
[Ilustração:
Johannes Vermeer]
Essas dicas continuam válidas https://bit.ly/3dVOJM7
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