12 fevereiro 2021

Ascensão apenas mediana

Palmeiras teve muitos momentos de ótimo futebol com Abel, mas retrocedeu

Maratona pode diminuir qualidade de atuações, mas não justifica eliminação no Mundial

Tostão, Folha de S. Paulo

 

A maratona de jogos do Palmeiras é um fato que pode diminuir a qualidade das atuações, mas não é a causa principal da derrota para o Tigres. Os maiores motivos são as deficiências técnicas, táticas e individuais. Não houve também surpresa. As duas equipes estão no mesmo nível. Nessa partida, o time mexicano foi superior.

Enquanto o Tigres se agrupava e trocava passes, o Palmeiras, novamente, abusava dos chutões e das bolas longas da defesa para o ataque, com os jogadores distanciados uns dos outros. O meio-campo não existia. A bola só passava por cima. O mesmo aconteceu em várias outras partidas, nas que ganhou e nas que perdeu. O time, após a vitória sobre o River Plate, gostou tanto das bolas longas para a correria de Rony que passou a priorizar essa jogada, até virar a única estratégia.

O Palmeiras é mais um exemplo que o estilo de várias equipes se dá pelas características de alguns atletas. O Barcelona, na época de Guardiola, trocava tantos passes e tinha tanta posse de bola porque havia Iniesta e Xavi, dois supercraques no meio-campo. O Palmeiras confiou demais na velocidade dos atacantes, especialmente na de Rony. Ele é apenas um bom jogador, corredor. Não pode ditar a maneira de jogar de uma equipe.

No Tigres, o volante brasileiro Rafael Carioca tocava, recebia, tocava, não errava um passe nem perdia uma bola. Quando jogou no Atlético-MG, o jogador era, com frequência, vaiado e criticado. Achavam que era muito lento. O mesmo ocorreu com o volante Maicon, no São Paulo. No ambiente do Grêmio e com a ajuda de Renato Gaúcho, mostrou talento e eficiência.

O meio-campo, repito por mais de 20 anos, foi desvalorizado, durante décadas, no futebol brasileiro. Era dividido apenas entre os que marcavam e os que atacavam. Isso tem mudado lentamente.

O Palmeiras, com Abel Ferreira, teve muitos momentos de ótimo futebol, mas retrocedeu nos últimos jogos, tanto nas vitórias quanto nas derrotas.

Os melhores técnicos de todo o mundo perceberam que a questão não é ser impositivo, ser ofensivo e pressionar, ou ser reativo e jogar nos contra-ataques. É utilizar as duas maneiras, de acordo com o momento e com o adversário.

O Manchester City, na goleada sobre o Liverpool, por 4 a 1, pressionava e, quando perdia a bola e não conseguia recuperá-la, voltava todo para o próprio campo e fechava os espaços.

Guardiola passou a fazer isso, após um início de competição muito ruim. A equipe se recuperou e é líder do Campeonato Inglês. O Manchester City de Guardiola é bem diferente do Barcelona da época em que Guardiola era o treinador. O técnico e o futebol evoluíram.

O Bayern, que disputa na quinta (11) o título mundial contra o Tigres, é um time que pressiona, acelera e cadencia, troca passes curtos e longos e joga com velocidade e sem pressa. Possui no meio-campo um craque, Kimmich, que faz tudo bem, marca, dribla, passa e finaliza. É o volante-meia. É um meio-campista.

O Bayern organiza as jogadas pelo centro, desvia a bola às laterais, que a retornam rapidamente ao meio, onde está muito bem posicionado o excepcional finalizador Lewandowski, pelo alto ou pelo chão.

O futebol mudou muito nos últimos dez anos e não para de evoluir. Em um jogo, precisamos olhar para os números e para o gramado. Primeiro, para o gramado. O futebol é mais que uma ciência. É também arte e emoção. Deveria ser analisado pelas estatísticas, pela técnica, pela estratégia e pela imaginação.

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