O dragão inflacionário está voltando?
Maxsandro
Souza*
O tema tem voltado à
baila. Nas redes sociais, portais da internet, nos jornais impressos (alguém
ainda os leem?), na mídia em geral, esse assunto tem sido bastante discutido
nos últimos dias. Não é à toa: a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,53% em junho e chegou a 8,35% no
acumulado em 12 meses. Não é um despropósito esperar uma taxa acima 6% em 2021,
superior à meta de 3,75%.
A inflação se deve,
basicamente, a um choque de oferta. O petróleo, por exemplo teve um aumento de
41% em 2021. Mas não só: commodities minerais, agrícolas, agropecuárias, assim
como produtos manufaturados, sofreram aumento em função da desarticulação das
cadeias produtivas globais. Os efeitos da pandemia se fizeram sentir fortemente
e desmantelaram estruturas produtivas ao redor do planeta, levando a falta de
produtos e ao consequente aumento dos preços.
A elevação dos preços
internacionais levou a um aumento dos preços dos insumos produtivos – aço,
carne, soja, produtos químicos - do Brasil. Todos esses produtos têm seus
preços definidos no mercado internacional em dólar. Dessa forma, a
desvalorização do câmbio brasileiro também tem contribuído para acelerar a
inflação. Há ainda a alta dos preços dos alimentos, agravada por uma brutal
retração da renda real dos salários.
Paradoxalmente, a
depressão salarial contribui para segurar a inflação de serviços. A perseverar
a orientação de arrocho e a trágica situação do mercado de trabalho, sem
aumentos reais de salários e com cerca de 19,5% da força de trabalho estando
desocupada ou em desalento, não há pressão inflacionária via salários.
Da mesma forma que os
salários não exercem pressão inflacionária, é vil creditar ao auxílio
emergencial (conquista dos movimentos sociais) o aumento de produtos
alimentícios. Este fenômeno está relacionado à desestruturação do mercado
global em função da pandemia e ao movimento de defesa da segurança alimentar
que diversos governos empreenderam em proteção às suas populações. Lamentavelmente,
o governo brasileiro nada fez em defesa da renda e da segurança alimentar da
nossa gente.
O futuro da inflação
no Brasil dependerá de alguns fatores. Devemos considerar como a evolução da
crise política e a lentidão no combate à pandemia afetarão o humor o os
interesses de distintos agentes sociais e econômicos. O nível da taxa de juros nos Estados Unidos também
deve ser observado. Pesará ainda, a evolução do comércio internacional e
qualidade das relações comerciais e financeiras que o Brasil adotará com o
resto do mundo. Se considerarmos o histórico do desgoverno Bolsonaro é bom
ficarmos atentos.
*Economista, Mestre em Economia pela Universidade Federal de Sergipe
.
Veja: Tema
político, veja: Quem avisa que vai melar o jogo com tanta antecedência bom
sujeito não é https://bit.ly/2TUCwlA
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