A ilimitada fome de lucros
Por Luciano Siqueira
Desde criança a gente escuta dizer que sabido é quem sabe ganhar na usura. Troca o trabalho pela esperteza e dá tudo certo.
É o que se pode dizer dos banqueiros, personagens mais conhecidos do que se convencionou chamar de setor rentista de nossa economia.
Em tempo de inflação desenfreada, ganhavam fortunas. Hoje, ainda que continuem ostentando receitas astronômicas, dão um jeito de lucrarem também com uma outra mina: as tarifas cobradas dos correntistas por serviços os mais diversos, até com a abertura de crédito (em que cobram a TAC) e a emissão do segundo talão.
Segundo o Valor Econômico, a receita dos bancos brasileiros com tarifas cresceu quase oito vezes desde o Plano Real e dobrou no governo Lula, atingindo R$ 52,8 bilhões em dezembro de 2006.
Na verdade, em termos relativos, o ganho com tarifas cresceu mais do que a receita total dos bancos, que triplicou desde o Plano Real e cresceu 21,2% já no governo Lula, alcançando nada menos que R$ 298,97 bilhões.
Mais: quase sempre o cliente não é devidamente informado sobre as taxas cobradas.
As estatísticas, nesse sentido, são impressionantes. Dados do Banco Central indicam que entre 2005 e 2006 verificou-se um acréscimo de 50% no volume de reclamações sobre cobranças consideradas indevidas.
Num certo sentido, o problema é apenas uma das faces mais visíveis de um grave problema que permeia a economia brasileira: os mecanismos complexos e imbricados que fazem prevalecer a especulação financeira em detrimento do crescimento da produção e da expansão do emprego.
Não precisa ser especialista para constatar o peso da Espada de Dâmocles que é o “mercado” – essa entidade abstrata e, no entanto, tão entranhada na vida econômica brasileira -, que tem hoje o seu fortim no Banco Central de onde maneja, com uma independência absurda, o sistema de metas inflacionárias, o câmbio sobrevalorizado e taxas de juros das mais altas do Planeta.
Quem não se lembra que um dia após o anúncio do PAC o Copom arbitrou a taxa Selic em sentido contrário. Foi como um sinal: nada de ilusão com a farra do crescimento econômico!
Mas há uma outra questão subjacente: quem governa o país?
Se o PAC é chave para o sucesso do governo Lula – e é -, mais cedo ou mais tarde o presidente terá que tomar atitudes que contrariem os interesses poderosos dos senhores da alta finança, para atrair investimentos privados.
Tomara que encontre forças para tanto. Para o bem do Brasil.
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