Procissão sem andor e antes do tempo
Luciano Siqueira
Está parecendo uma espécie de procissão antes do tempo. Pior: sem andor e sem santo, movida apenas pelo fervor “religioso” e pela ansiedade de alguns. Refiro-me a essa conversa de fechar agora chapas majoritárias para o pleito de 2010.
Que os partidos tenham direito de especular sobre o assunto, fixar seus objetivos, sugerir nomes, tudo bem. Cada um no seu ritmo e segundo suas necessidades e conveniências. Mas, por enquanto, é assunto de cada partido, não carece de acordos antecipados. Tem muito chão pela frente.
Mais: quem quiser forçar a barra pode se atrapalhar adiante. Como recomenda a sabedoria popular, o apressado como cru. Na política, às vezes nem cru se come quando a pressa não se coaduna com o amadurecimento do cenário da luta.
E, convenhamos, há variáveis que comporão o cenário de 2010 que ainda estão longe de se apresentar. Cito algumas: o desempenho da economia, que pode favorecer, ou não, as forças que hoje governam o país; a concentração de candidaturas presidenciais ou a existência de várias, de ambos os lados; o grau de articulação de forças no plano estadual, da situação e da oposição.
Por outro lado, à maioria dos partidos pouco interessa fechar acordos em torno de candidatos majoritários desde já. Por que todos, ou quase todos, cuidam hoje de fortalecer suas hostes para testá-las lá na frente, à mesa de discussão, e só aí medir as possibilidades de um vôo próprio maior ou menor; se poderão se firmar como protagonistas ou se serão apenas co-participes do processo.
Também influenciará a composição de chapas majoritárias o comportamento do adversário – e isso vale para ambos os lados.
Assim, ganharão mais proveito os que por enquanto centrarem o diálogo interpartidário e com setores organizados da sociedade não em torno de nomes, mas em torno de idéias – na avaliação da realidade concreta, na consideração do cenário ainda em formação e na consideração de propostas programáticas.
Alguém ao nosso lado pode contra-argumentar que a ministra Dilma há tempo vem sendo inflada pelo presidente Lula e já se comporta como pré-candidata; e que cá na província, ninguém duvida que o governador Eduardo Campos tentará a reeleição. Tudo bem, são fatos. Porém pelo menos no caso da sucessão presidencial o deputado Ciro Gomes, do PSB, também põe a cabeça de fora e se diz pré-candidato. E o governador é o presidente nacional do seu partido, circula nas esferas nacionais e pode até ser chamado a outro tipo de participação no pleito.
Logo, o melhor mesmo é esperar pelo andor e pelo santo, ao invés de precipitar a saída da procissão. A não ser que algum pretendente deseje tomar as ruas mesmo sem andor.
Um comentário:
É a ganância de alguns, vereador, daqueles que pensam no povo em último lugar e querem sempre estar por cima!
Valério Gomes
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