15 abril 2009

Meu artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (JC Online)

Táticas e programa na sucessão de Lula
Luciano Siqueira

Antes de uma grande batalha todos têm o direito de se preparar – cada um a seu modo. Que nem nações indígenas, que praticam o toré – a dança que invoca os espíritos guerreiros e estimula coragem e combatividade.

A sucessão do presidente Lula prenuncia-se uma grandiosa batalha, em que dois projetos diametralmente díspares estarão em confronto: a construção de um caminho próprio para o desenvolvimento do pais, assentado em bases soberanas e democráticas; e o retorno ao paradigma neoliberal, ainda que maquiado com palavreado desenvolvimentista.

Por enquanto, a expressão desse confronto estaria nas pré-candidaturas da ministra Dilma Rousseff e a do governador de São Paulo, José Serra. Mas as coisas não estão tão definidas, outras candidaturas poderão vingar de ambos os lados.

Do lado oposicionista, os ensaios do governador de Minas Gerais, Aécio Neves e o anúncio de uma prévia no PSDB, soam mais como jogada destinada a atrair holofotes para os tucanos. O que estaria em curso, isto sim, seria a unidade de paulistas e mineiros, numa reedição moderna da política do café-com-leite que na República Velha viabilizava a alternância de políticos dos dois estados no comando da nação. Por aí estariam somadas forças dos dois maiores colégios eleitorais do país, para um arranque inicial com condições de enfrentar a provável candidatura petista pelo lado do governo.

Já na base governista, o deputado Ciro Gomes, do PSB, movimenta-se com desenvoltura na condição de pré-candidato. Há até quem argumente a seu favor o “modelo pernambucano”, numa alusão ao pleito de 2006, em que dois candidatos da então oposição, Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT), foram ao combate e uniram suas forças no segundo turno, suplantando o então governador Mendonça Filho (Democratas), que tentava a reeleição. Um argumento pouco consistente, que não rebate a objeção que o qualifica como mera transposição mecânica de um a experiência localizada para outra dimensão, infinitamente mais complexa.

E é verdade. Basta que se considere, em 2010, a eleição p[residencial casada com a dos governadores, fator decisivo em âmbito estadual que entraria em colisão com a tese de mais de uma candidatura governista. Entretanto, não está errado o PSB ao apresentar o deputado como pré-candidato. Lá adiante se decidirá se vinga, ou se prevalece um nome do partido majoritário na coalizão governista, o PT.

Porém algo chama a atenção. Por enquanto, fala-se em tática eleitoral e não em programas – uma lacuna incompreensível, sobretudo porque vivemos um ambiente de crise a reclamar propostas estruturantes da economia do país.
www.lucianosiqueira.com.br

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