22 abril 2009

Meu artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (JC Online)

2010: hora de baixar a bola e conversar mais
Luciano Siqueira

É comum na vida política nos depararmos com dois tipos de raciocínio. Um, podemos chamar de cartesiano, que parte de determinadas intenções aparentemente respaldadas na realidade e traça um roteiro único como se as coisas já estivessem previamente resolvidas. O outro, dialético, considera a situação presente, identifica possibilidades e eventuais obstáculos e segue roteiro que comporta mais de uma alternativa.

O segundo tem mais chance de dar certo, embora ao primeiro não seja vedada a possibilidade de êxito – não como prêmio à precariedade da postura de quem o adota, mas por força de certas circunstâncias que Maquiavel chamaria de fortuna.

O quadro eleitoral de Pernambuco ainda está de longe de alcançar contornos mais claros, embora pareça a alguns previamente definido no que se refere a postulações a cargos majoritários. No campo governista, as coisas estariam antecipadamente escritas num hipotético livro do destino. No campo da oposição, nem tanto – embora as especulações tendam a raciocínio idêntico.

Nada mais temerário. Há variáveis oriundas da disputa nacional que talvez influenciem o processo aqui. Uma delas é existência de mais de um candidato de partidos da atual coalizão que apóia o governo Lula. Como evitar a reprodução da fórmula no plano estadual? Nada fácil. Seria o inverso do ocorrido em 2006, quando apenas um candidato à presidência – Lula – pôde se valer de dois palanques aliados locais, o de Eduardo Campos e o de Humberto Costa. A equação invertida é praticamente impossível e teríamos mais de uma candidatura ao Palácio do Campo das Princesas. Aí as composições para o Senado também teriam outro desenho.

Menos difícil seria uma candidatura a governador do PMDB local, na contramão da aliança dos peemedebistas com os petistas em torno de uma candidatura à presidência indicada por Lula. Incômoda, mas não de todo inviável. Assim mesmo, alguém teria dúvida de que sem uma candidatura a governador competitiva pelo menos um dos dois senadores oposicionistas desistiria da tentativa de reeleição?

Tem ainda os interesses reais dos partidos em ascensão, que miram 2010 com o olhar também nas prefeituras da capital e de cidades pólo em 2012. Essa variável pode provocar soluções inicialmente não previstas na disputa das duas vagas ao Senado. Candidaturas com menos chances podem surgir, seja para reforçar as chapas de deputado federal e estadual, seja para acumular cacife para o pleito majoritário seguinte – o de prefeitos.

E tem também os desdobramentos da atual crise global e suas repercussões sobre o país e a região. Dessa mata também pode sair algum coelho ainda imprevisto.

Pelo sim, pelo não, a experiência de muitos carnavais deveria inspirar mais cautela, menos cartesianismo e mais conversa. Pois dialeticamente pensando, tudo pode acontecer.

Por tudo isso a hora é de baixar a bola e conversar mais. Sem pressa, porque – como ensina a sabedoria popular – o apressado corre o risco de comer cru.

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