Terceiro mandato: duas indicações importantes
Luciano Siqueira
Há coisas na cena política atual que de tanto repetidas, enjoam. Uma delas é a tese do terceiro mandato para o presidente Lula. Volta à tona de modo recorrente por iniciativa de um ou outro parlamentar das hostes governistas, não se sabe se por convicção ou por necessidade de holofotes; ou é explorada como ameaça de Satã pela oposição. Tudo isso apesar das repetidas declarações do presidente de que não aceitaria a alteração da regra constitucional.
O Instituto Datafolha deu a sua contribuição no último fim de semana ao registrar que 47% dos entrevistados gostaria de ver Lula reeleito novamente.
Tirante a pirotecnia em torno do assunto, que a nada leva a não ser preencher espaços no noticiário, na pesquisa Datafolha e no reme-reme oposicionista há duas indicações importantes.
A primeira indicação: certamente a quase metade do eleitorado – segundo o mensuração do instituto paulista – que se diz favorável ao terceiro mandato o faz como reflexo da alta avaliação do governo e do desempenho do presidente em particular. E por entender que na atual crise global e seus reflexos sobre o país, o governo não é causa e sim parte da solução. A continuidade do projeto político atual é a essência da mensagem.
A segunda indicação é mais do que clara. A oposição, com o PSDB à frente, carece de um discurso objetivo e sintonizado com as reais necessidades do país, capaz de sensibilizar o eleitorado. Não é à toa que ensaia (segundo os jornais de hoje) um movimento de divulgação dos supostos benefícios ensejados pelos dois governos consecutivos de Fernando Henrique Cardoso. Ou seja: se faltam propostas para hoje, que se lance mão das idéias de ontem. Pior: maquiando um ideário que os brasileiros rejeitaram nos dois últimos pleitos presidenciais e que a vida se encarregou de sepultar através da crise hoje que assola o mundo e destrói os fundamentos das políticas neoliberais.
Imagine se o tucanato ainda estivesse no comando do país. Alguma dúvida de que o roteiro anticrise seria outro? Ao invés de apostar nas próprias potencialidades, incrementando investimentos públicos em infraestrutura, estimulando a produção e a expansão do mercado interno, o Brasil estaria enredado na orientação do FMI e envolto no círculo vicioso do monetarismo exacerbado.
Terceiro mandato, não. Teremos, sim, um terceiro tempo da disputa ocorrida a partir de 2002 e novamente dois projetos de Brasil serão submetidos ao crivo do eleitorado: o passado frustrante versus o presente progressista e promissor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário