25 junho 2009

Artigo semanal no site da Revista Algomais

Quem nos dera um robô desses!
Luciano Siqueira

Dia desses um amigo viciado em livros, como eu, comentou que todo um piso da Biblioteca Pública do Estado tem o seu acervo inacessível ao público para evitar danos, tais as precárias condições de conservação. Não conferi, mas não será surpresa se assim estiver acontecendo – igual a muitas bibliotecas por todo esse imenso Brasil.

Dá-se pouca importância a bibliotecas em nosso país, infelizmente. De modo que leio com satisfação, e uma indisfarçável ponta de inveja, que um robô vai digitalizar, até 2012, cem mil livros da coleção do empresário José Mindlin e da Universidade de São Paulo. Quem nos dera um robô desses!

O tal robô – um Kirtas APT 2.400 BookScan – custa cerca de 220 mil dólares. Foi adquirido pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e doado à USP. Segundo reportagem na Carta Capital, ele é capaz de ler 2.400 páginas por hora, de modo que um livro de 300 páginas, por exemplo, pode arquivado num computador em apenas oito minutos.

Mais fantástico é o resultado. Imagine que raríssimos exemplares de autores como Machado de Assis, José de Alencar e Joaquim Manoel de Macedo; os Sermões do Padre Antônio Vieira; gravuras de Jean-Baptiste Debret – pertencentes ao empresário – depois de concluído todo o processo (após digitalizado, o livro é examinado por pesquisadores através de soft-wares livres e customizados), manuscritos, mapas, ilustrações as mais diversas, textos antigos se tornam disponíveis a todo e qualquer cidadão interessado. Gratuitamente.

E não ficará apenas no acervo citado. Futuramente se poderá fazer o mesmo com acervos de outras bibliotecas igualmente importantes.

Tudo ainda está em fase experimental, mas você já pode fazer seu próprio teste acessando o endereço http://brasiliana.usp.br/. Eu já fiz e me dei muito bem, tendo acesso à edição da História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador, preparada por Capistrano de Abreu, que já está online.

Além da democratização do acesso a tão extraordinário acervo, várias outras serventias vêm junto – como a facilidade de realização de pesquisas e estudos diversos e a preservação de parte significativa da cultura brasileira e universal.

Também duas verdades são demonstradas: a informática e a internet não “matam” o livro, antes o complementam e o fortalecem; e servem para muito mais do que armazenar e difundir o “lixo” intelectual produzido diariamente a muitas mãos e consumido por internautas semialienados.

Pernambuco tem realizado em seu território parte de nossa História e de nossa cultura. Guarda acervos importantíssimos. Bom seria se tivéssemos um robô desses na terra de Gilberto Freyre, José Antonio Gonçalves de Mello Neto, Pereira da Costa e Carlos Pena Filho.

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