26 junho 2009

Meu artigo semanal no Blog de Jamildo (JC Online)

Impressões (superficiais) sobre as eleições argentinas
Luciano Siqueira

Quantas vezes não nos queixamos, cá entre nós, de campanhas eleitorais ricas em glamour, porém pobres de conteúdo? É aquela coisa: candidatos produzem frases de efeito e gestos pirotécnicos no intuito (nem sempre bem sucedido) de despertar a emoção do eleitor; e a mídia a bisbilhotar fuxicos ou desaforos – em prejuízo do debate de idéias. Perdemos todos: partidos, candidatos, eleitores e, mais ainda, nossa débil democracia.

Pois bem. Quatro dias em Buenos Aires é muito pouco para me encorajar a dar opinião sobre as eleições parlamentares na Argentina, que ocorrerão domingo próximo. Nem pretendo. Apenas registro algumas impressões superficiais de observador en passant, já aqui vim para aproveitar uma brecha na atribulada agenda, sem outro compromisso além de viver o ambiente dessa bela e romântica cidade. Mas fica impossível fechar os olhos à política – inclusive ao que aqui acontece.

Começa pelos taxistas. Quase todos querem saber de Lula e pelos menos três deles me propuseram uma troca de Cristina Kirchner (rejeitada por 71% dos portenhos, segundo pesquisa feita pela consultoria Graciela Römer e Associados, divulgada no domingo) pelo nosso presidente, prometendo uma boa usura que me pagariam com “muchos pesos”. Depois, pela flagrante apatia (pelos menos na capital federal) da população: não se vê nada de campanha, salvo alguns cartazes em algumas paredes e tapumes. Mais: nos jornais e na TV, ganha uma caixa de alfajores Havanna quem descobrir as propostas dos candidatos – mesmo quando se mostram cenas de alguns atos públicos em recintos fechados.

E não é pouco o que está em causa no pleito de domingo próximo: 127 cadeiras na Câmara de Deputados, das quais 35 são eleitas na Província de Buenos Aires.

A disputa se dá com o voto em partidos ou coligações, que fazem listas fechadas com ordem predeterminada - quanto mais votos conquistados, mais candidatos são eleitos. Há, contudo, destaque para alguns nomes que encabeçam as listas, como o ex-presidente Néstor Kirchner, maior nome da situação, e Francisco De Narváez, da oposição.

Passeio pelos canais de TV, abro os jornais de maior prestígio, Clarin e La Nacion – e, sinceramente, nada mais do que um bate-boca tremendo sobre a autenticidade de pesquisas sobre intenção de voto!

Estranho, muito estranho, a julgar pelo grau de politização dos taxistas, esses porta-vozes informais do senso comum em toda grande cidade. Aqui eles são capazes de falar das dificuldades econômicas, da crescente favelização do entorno metropolitano; fazem críticas ao governo, mostram-se por dentro da política. E concordam quando reclamo da ausência de propostas na campanha. Donde se pode concluir que algo não anda bem com partidos e candidatos argentinos.

Ou será mera impressão do observador que está apenas de passagem?

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece que isso é uma praga, Luciano. As eleites não gostam de debater os problemas a fundo para que o povo não tome consciência de suas verdadeiras causas.
Maria Dolores Neves