22 março 2013

Uma questão estratégica

Face cruel da opressão de gênero
Luciano Siqueira

Publicado no Blog Algomais

Em reunião de pactuação de metas e orçamento na Prefeitura do Recife, ao discutirmos ações a serem desenvolvidas pela secretaria da Mulher, pusemo-nos todos de acordo que um fórum destinado a fazer permearem todas as políticas públicas municipais pela questão de gênero deve ser comandado pelo próprio prefeito Geraldo Julio, cuja liderança e autoridade pessoal, nesse caso, se mostram intransferíveis.

O prefeito assim se posiciona pela consciência plena da importância do tema na gestão pública e para cumprir compromisso de campanha.

Na verdade, além de ações destinadas a sensibilizar e a mobilizar parcelas da população feminina distribuídas espacialmente na cidade e identificadas por segmento socioeconômico, cabe também abordar o grande contingente de mulheres que integram a própria Prefeitura – que, em alguns setores, como a educação e a saúde, beiram os oitenta por cento de servidores da Casa e ocupantes de cargos comissionados.

No ambiente do governo, ora de maneira sutil ou velada, ora de maneira explícita, a desigualdade de gênero se expressa de múltiplas formas, sobretudo através de atitudes preconceituosas e discriminatórias, quando não até agressivas. Isto porque o ambiente de trabalho termina por refletir o que ocorre na sociedade.

Trata-se de uma questão de sentido estratégico, que diz respeito à possibilidade de avançarmos no processo civilizatório brasileiro.

A propósito, leio agora no Correio Braziliense, dados de uma pesquisa divulgada em 2012 pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, segundo a qual o Brasil ocupa o sétimo lugar no pódio, dentre oitenta e quatro países com maior incidência de crimes contra a mulher.

Nos últimos trinta anos, cerca de noventa e dois mil mulheres foram assassinados, 43,7 mil apenas na última década.

Mais: estudo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) atesta a exposição da mulher à violência: nada menos que 677 mil processos judiciais relativos a esse tipo de delito tramitaram no país entre 2006 e 2011.

Não seria surpresa se esses números não se tornassem mais contundentes ainda se superássemos o subregistro, um elemento agravante do problema. Percentual altíssimo de mulheres agredidas, mesmo com o advento da Lei Maria da Penha, se omitem por medo de represálias.

O fato é que a bandeira da igualdade de gênero e o combate direto à violência sexista impõem-se a cada dia com destaque na pauta dos governos, assim como em todos os segmentos da luta social e fóruns, permanentes ou ocasionais, em que as ideias são postas a debate no sentido de fazermos avançar a trajetória progressista do nosso país.

Tarefa das mulheres e igualmente da outra metade da população.

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