15 março 2013

A palavra instigante de Jomard

COSMOLOGIA além dos tremores
Jomard Muniz de Britto, jmb
 
Numa tarde clara, conversando com a poeta
Deborah, entre amigos muito mais raros,
sugeri que o tempo-espaço das criações
de Brennand era existencialmente cosmológico.
Jamais seria apenas cronológico.
Nem a mais longa nem as mínimas durações
poderiam capturá-lo. Convencionalmente.
COSMOLÓGICO na desmedida em que,
através dele - F. B. - o horror dialogava com o
esplendor, o belo irradiante.
Corpos fraturados, deuses e deusas profanados,
mitos em profusão. Mitologias onipresentes.
Longe, muito longe dos esteticismos, regionais
ou mesmo universais, Brennand mergulha
nos abismos da invenção,
Nada se reproduz realisticamente.
Tudo em transfiguração entre o sombrio e
a mais fulminante luminosidade.
Seres cortados assumem o gesto de uma
grandeza entre o barro e o cristal.
Tempo da eternidade do Pai.
Relembro pessoas da mais sutil 
intelectualidade que se diziam surpresas
com a virilidade multiplicante no
Tempo/Templo/Accademia da VÁRZEA.
Aqueles falos. Aquelas protuberâncias.
Aqueles desregramentos da percepção.
Hoje ninguém mais se admira e muito menos
é assombrado com o monumento que reina no
MARCO ZERO do RECIFE: tão amado quanto?
Essa atmosfera cosmológica, em ritmo de atenção
compreensiva, não poderia ter sido melhor
cinematografada senão pela câmera de
Walter Carvalho sob a direção cúmplice de
Mariana Brennand Fortes.
E a voz aveludada de Hermila Guedes?
Eis um filme que talvez possa nos redimir
das ganâncias politiqueiras e dos derrames
e devassas mercadológicos. 
Salvação e perdição irremediavelmente
cosmológicas, porque assim relemos
um poema de Deborah, ESCUTA:
Antes da brisa, escuta o que eu digo:
de tufos de capim nasce a cinza,
e as folhas deliram, com a fúria dos pássaros.
Sem pejo, as nuvens mostram cicatrizes,
aranhas tecem os véus mortais das rosas
e, se acaso amarrar almas, o tempo corta a fita.
Quando Francisco interpreta a si mesmo,
nenhuma caricatura paira no ar.
Porque ele sabe ver, ouvir, tocar, dizer
a cosmologia de nossas cosmoAgonias.
Recife, março de 2013.

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