15 março 2013

Vida em Marte: será?

Por onde anda Marcianita?
Luciano Siqueira

Publicado no Blog Algomais e no Jornal da Besta Fubana

O primeiro telefonema do dia é do velho e sempre presente Epaminondas: - Lembra-se daquela musiquinha da jovem guarda em que um cantor de voz fraca sonhava com o amor de uma Marcianita? Veja os jornais de hoje: ela pode estar por aí...

Lembro-me da música sim, embora jamais tenha prestado atenção à letra inteira: “Esperada, Marcianita,/Asseguram os homens de ciência/Que em dez anos mais, tu e eu/Estaremos bem juntinhos,/E nos cantos escuros do céu falaremos de amor...”.

Com tanta coisa importante a tratar, o noticiário cheio de noticias reais e muito mais fictícias, notas plantadas em colunas de política e de economia, e o Epaminondas interrompe minha leitura matinal com assunto tão irrelevante!

- Irrelevante coisa nenhuma! Leia, homem, preste atenção ao que a Nasa acaba de descobrir: poderia ter havido vida em Marte.

De fato, está nos jornais: cientistas da agência aeroespacial norte-americana afirmam que uma rocha sedimentar encontrada pelo jipe-robô Curiosity contém seis elementos químicos necessários à existência de micróbios - enxofre, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono. Daí se depreende que o planeta já teve condições de habitabilidade por gente tipo a gente cá da Terra.

Um tal John Grotzinger, comandante científico da missão Curiosity é categórico: “Essa rocha é bem parecida com o tipo de coisa que achamos na Terra. Encontramos um ambiente habitável tão benigno e amigável à vida que, se essa água ainda existisse e nós estivéssemos ali no planeta, poderíamos bebê-la”. Para Epaminondas, eis a senha para a busca de Marcianita, empreitada na qual deseja me comprometer.

Ora, tenho lá tempo para me preocupar com essa bobagem! Mas o amigo é persistente: - Cara, os americanos são dados a descobertas fantásticas, leve isso a sério. Veja o que botaram no relatório da pesquisa (prossegue do outro lado da linha com um exemplar da Folha de Pernambuco em punho): “O jipe-robô ainda não encontrou substâncias orgânicas, que seriam um sinal inquestionável da existência de vida em Marte. Mas isso já não é mais necessário para dizer com segurança que o planeta era habitável, pois a maioria das bactérias da Terra metaboliza substâncias inorgânicas.”

A tese de Epaminondas é que se antes, sabe-se lá quando, aquele planeta era habitável, pode ter gente de lá zanzando por aqui, feito assombração, mas de carne e osso. Marcianos e marcianas, com predileção óbvia por marcianas. E enquanto cantarola a musiquinha, chamando por Marcianita, segue especulando que pode haver elementos infiltrados em centros de pesquisa científica, ou nas redações dos grandes conglomerados da mídia internacional, ou na Aple ou Microsoft, ou mesmo no alto comando do PSDB. – Pode ser um perigo!, adverte.

Bom, para cortar a conversa, ponho-me em solidariedade ao conterrâneo admitindo que pelo menos num canto do Brasil nenhum alienígena representa ameaça: o alto ninho tucano reunido em torno do senador Aécio Neves. Dalí nada sai além de furor odioso contra o PT e a esquerda e maledicências típicas da viuvez do neoliberalismo. Nem mesmo Marcianita, com os encantos proclamados na musiquinha sem graça, produziria ali uma ideia nova.

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