17 dezembro 2015

Para onde vamos?

A imprevisibilidade política de cada dia

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Não que a política seja plenamente imprevisível. Em condições normais de tempo e temperatura, a maioria das variáveis em presença, dá para se saber razoavelmente o que poderá acontecer nos meses seguintes.
Não está fácil prever com alguma dose de mediana certeza o que acontecerá nos dias subsequentes, na atual situação política nacional.

Salvo na emergência de um imprevisto. Engels, em meados do século XIX, escreveu sobre a importância do acaso na luta política. 

Mas no Brasil dos nossos dias faltam atores razoavelmente consistentes e credenciados para o enfrentamento da situação.

A presidenta Dilma e seu governo, neste segundo mandato, levou oito meses para alterar o núcleo político do governo, convertendo-o num grupo de auxiliares capazes de estabelecer a interlocução que o anterior não fazia. 

O próprio partido hegemônico no governo, o PT, dividido internamente e perplexo diante do desgaste decorrente da Operação Lava Jato e outras, movimenta-se na cena política com visíveis dificuldades.

Na oposição, o principal partido - o PSDB - também se divide internamente entre líderes que miram desde já o próximo pleito presidencial; e se desgasta com cantilena do impeachment e a frequência com que assedia os tribunais.

Os tucanos, por isso mesmo, já sofreram quatro repreensões públicas da parte do Sistema Globo, ponta de lança do complexo midiático oposicionista, justamente por não terem sido capazes de conquistar a confiabilidade necessária. 

O PMDB, por seu turno, centrista como sempre, e assim mesmo força imprescindível a ambos os lados, oscila entre a solidariedade à presidenta Dilma e a aventura golpista que possa alçar o vice Temer à presidência da República. 

Setores da sociedade ativos, também estão longe de uma unificação. 

A precipitação do processo de impeachment como vindita do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, afundado na areia movediça dos escândalos de corrupção que o envolvem, levou a que o PSDB, o DEM e o PPS, a parte peemedebista contrária ao governo e outros aliados apostassem todas as fichas no próprio Cunha. E agora se defrontam com enorme desgaste.

O PMDB, por um instante, lastreado no documento "Uma ponte para o futuro", visível tentativa de assumir o protagonismo no lugar do PSDB, vê-se alvo da nova fase da Operação ao Lava Jato e tende a uma semi paralisia.

E enquanto se aguarda a decisão judicial sobre o rito do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, as ruas e as redes sociais se constituem numa trincheira de agudo confronto. 

Nesse contexto, a última rodada do Fórum da Previdência e do Trabalho, segunda-feira última, em Brasília, reuniu centrais sindicais, entidades empresariais e governo apontando para um possível pacto desenvolvimentista pós-juste.

Da parte dos que se batem contra o impeachment, todo o esforço se concentra no fortalecimento de uma frente ampla pela Democracia. 

Tão ampla que reúne o PCdoB, o PT, outros partidos, setores de partidos, parlamentares, personalidades públicas, intelectuais, religiosos, artistas, empresários, juristas e segmentos organizados da luta social, independentemente de apoiarem ou não o governo Dilma. 

Esses dois elementos - a possibilidade de um pacto em torno da agenda pós-ajuste fiscal e a frente ampla democrática - podem vir a ser determinantes na superação da crise. 

Não é propriamente uma previsão, mas uma hipótese razoavelmente plausível.

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