Bernardo de Mello Franco, na Folha de S. Paulo
Dois políticos em fuga discutem uma
saída para escapar da polícia. "Tem que resolver essa porra. Tem que mudar
o governo para poder estancar essa sangria", diz o mais afoito. "Tem
que ser uma coisa política e rápida", emenda o colega.
A conversa avança em tom de urgência.
"Tem que demorar três ou quatro meses no máximo", afirma o primeiro
interlocutor. É a deixa para o outro fazer a proposta: "Rapaz, a solução
mais fácil é botar o Michel". Assim foi feito. E foi fácil mesmo.
O diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado
ajudará os historiadores do futuro a explicar o impeachment de 2016. O desastre
na gestão da economia, as trapalhadas na articulação política e as prisões de
dirigentes do PT ajudaram a empurrar Dilma para a beira do abismo.
Mas o medo do camburão, que deu o tom
da conversa, foi o fator decisivo para estilhaçar a aliança parlamentar que
sustentava o petismo. Esse medo alçou Michel Temer ao comando do que já se
chamou, com elegância, de novo bloco de poder.
A gravação revelada pela Folha atesta como os investigados viram no
impeachment a "solução mais fácil" para frear a Lava Jato, que
ameaçava desmontar todo o sistema partidário.
"É um acordo. Botar o Michel num
grande acordo nacional", diz Machado. "Com o Supremo, com tudo",
responde Jucá. "Com tudo. Aí parava tudo", continua o ex-presidente
da Transpetro. "É, delimitava onde está. Pronto", arremata o senador.
A queda de Jucá, que durou apenas 12
dias como ministro da junta de salvação nacional, é a consequência menos
importante do episódio. Agora é preciso esclarecer as questões que o grampo
deixou no ar.
As delações dos empreiteiros são mesmo
"seletivas", como afirma Jucá? Ministros do Supremo teriam aceitado
participar de um acordão, como sugere o senador? O que os comandantes militares
prometeram "garantir"? E Temer, o que pretendia fazer com a Lava Jato
em nome de um "grande acordo nacional"?
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