31 maio 2016

Alternativa democrática

Em terreno movediço, uma saída possível
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Todo o processo de impeachment da presidenta Dilma até o ponto atual, que antecede a votação definitiva no Senado, tem sido marcado por uma multiplicidade de falácias e uma inglória tentativa de esconder o "x" da equação golpista.
Mas os fatos falam bem mais alto.
Quanto ao processo de impeachment, todo o tipo de artimanha e argumento foram esgrimidos para tentar demonstrar que a presidenta cometeu crime de responsabilidade. Sem êxito. As chamadas "pedaladas fiscais" jamais configuraram crime.
Mais: o contraste entre a composição "bichada" da Câmara dos Deputados - revelada à luz dos holofotes na votação da admissibilidade do impeachment - com a impossibilidade de flagrar a presidente em crime converteu-se em divisor de águas diante de crescentes parcelas da população brasileira e da quase unanimidade da mídia internacional. 
O Brasil, que vinha ostentando prestígio por uma redemocratização bem sucedida, torna-se uma gigantesca republiqueta de bananas!
No âmbito político propriamente dito dos argumentos golpistas, o aceno em favor de uma desejada estabilidade, do combate definitivo à corrupção e da retomada do crescimento econômico - peças presentes no discurso de respeitáveis aderentes à trama - viraram pó em apenas 18 dias de governo interino ilegítimo. 
Tempo recorde para a queda de dois ministros.
Lapso de tempo emblemático para a frustração do ajuste fiscal negado a Dilma, mas prometido por Temer-Meireles, e para a ênfase nos ataques aos direitos sociais conquistados na última década e meia.
Tudo à luz do dia e sobre terreno minado - no parlamento, na mídia, no onipotente "mercado" e, sobretudo, ao olhar dos brasileiros e brasileiras, antes perplexos e agora gradativamente indignados.
A queda do ministro da "Transparência" e a recomposição atabalhoada do MinC se deram por pressão popular (em combinação com o noticiário negativo). Vale dizer: a pressão das ruas dá resultados. 
Agora, quando se aproxima o desfecho do impeachment no Senado, cumpre manter a pressão social e sensibilizar parte dos senadores que apoiaram a admissibilidade para que agora se recomponham com a ordem democrática e o bom senso, interrompendo a farra Temer-Cunha e restabelecendo o governo constitucional de Dilma. Basta que os golpistas não somem dois terços dos votos.
Isto posto, se assim vier a ocorrer, uma página poderá ser virada e, com o concurso da própria presidenta, via plebiscito, se antecipem as eleições presidenciais. 
Pode não ser uma saída perfeita – porém uma tentativa legítima de superação da crise. 

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