Bernardo Mello Franco, na Folha
de S. Paulo
No primeiro dia como ministro das
Relações Exteriores, o tucano José Serra adotou uma linha pouco diplomática. Em
duas notas oficiais,
ele atacou os governos de cinco países e a direção da União das Nações
Sul-Americanas, a Unasul.
O chanceler estreante se irritou com
críticas ao processo que afastou Dilma Rousseff e promoveu seu novo chefe,
Michel Temer. Na primeira nota, Serra mirou os governos de Bolívia, Cuba,
Equador, Nicarágua e Venezuela. Ele acusou os cinco países de "propagarem
falsidades sobre o processo político interno no Brasil".
A segunda nota foi um petardo contra o
secretário-geral da Unasul. O ministro acusou Ernesto Samper de usar
"argumentos errôneos", fazer "interpretações falsas" e
expressar "juízos de valor infundados".
Para Serra, os comentários do
colombiano seriam "incompatíveis com as funções que exerce e com o mandato
que recebeu". Samper reagiu com ironia. "Fizeram o impeachment da
presidente do Brasil, agora querem o impeachment do secretário-geral da
Unasul", disse, segundo o jornal "Valor Econômico".
Nesta segunda, o chanceler retomou a
artilharia. O alvo da vez foi El Salvador,
que suspendeu os contatos com o Brasil. O Itamaraty chegou a insinuar uma
represália econômica, lembrando que o pequeno país é "o maior
beneficiário" de cooperação brasileira na América Central.
A beligerância de Serra tem um sentido
óbvio. Nomeado para uma pasta de pouca visibilidade, ele já conseguiu se
projetar e garantir espaço nos jornais. A exposição é parte essencial do seu
plano de ressurgir como candidato à Presidência da República em 2018 —pela
terceira vez e não necessariamente no PSDB.
O tom inaugural do chanceler empolgou
aliados, mas preocupou muitos
diplomatas experientes. Parte da força do Brasil no exterior se deve ao esforço
para manter a neutralidade e dialogar com todos os países. Essa aposta no
"soft power" não combina com uma diplomacia do porrete
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