02 junho 2019

Uma crônica para descontrair


Medo de avião
Luciano Siqueira

Numa dessas conversas rápidas e ocasionais, ouvi o comentário:

- Aqui não tenho medo, mas de avião tenho muito!

Era um cidadão de trajes formais, provavelmente visitante, ali no canto do elevador da Prefeitura.

- Pois me sinto absolutamente tranquilo num voo aéreo, retruquei. Confio nas estatísticas.

Como se eu tivesse dito uma asneira, todos se voltaram pra mim com ar de estranheza.
Não sei se pela referência às estatísticas ou pela percepção geral de que não se deva confiar num aparelho que voa a cinco quilômetros de altura.

Ariano Suassuna dizia preferir os buracos das estradas mal cuidadas ao único buraco visto lá de cima...

O cidadão bem vestido desceu no sétimo andar, onde fica meu gabinete. E se dirigiu ao lado oposto, provavelmente com audiência marcada na Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer.

Antes de pedir um cappuccino a Marly, como de hábito, permiti-me o devaneio. Como pode alguém bem informado ainda temer viagens aéreas em pleno Século 21?

Claro que pode. Tem gente que por natureza teme tudo, até a própria sombra. E sempre se inclina aos tais maus pensamentos, envolto em pessimismo.

Evidente que ninguém controla o rumo dos acontecimentos. Este desejo que nos persegue desde o início da Civilização certamente jamais será alcançado. Mesmo com a incessante inovação tecnológica, aparelhos dotados de sensores os mais diversos que, por exemplo, lêem a saúde da gente com tamanha precisão que ao médico cumpre um papel secundário, acompanhando os resultados dos exames feitos pela máquina.

Não devia ser assim, claro. Olhar nos olhos, perscrutar o estado de espírito do paciente, ouvir suas queixas atentamente, enfim, a boa relação médico-paciente será sempre indispensável. As máquinas não esclarecem tudo.

Voltando ao medo de avião, talvez eu é que esteja confiante em demasia – na evolução técnica das aeronaves e nas estatísticas, que demonstram uma incidência muitíssimo maior de acidentes nas estradas do que nas nuvens.

Melhor pedir o cappuccino, conferir a agenda e iniciar a labuta do dia – com o preciso auxilio do meu lap top e do smartphone.

Com otimismo e confiança nas novas tecnologias.

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