17 agosto 2020

Desafogo temporário


Programa ajudou imagem do presidente, diz Moreira
Transcrevo do Valor Econômico essa notícia como dado de realidade, sem aprofundar a análise.

O programa de auxílio emergencial de R$ 600 contribuiu para aprovação recorde de 37% do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reportada na última pesquisa Datafolha, juntamente com queda expressiva de 44% para 34% na rejeição, segundo Eduardo Moreira, empresário e criador do movimento #somos70porcento.

Ele destaca que o aumento de popularidade e queda de rejeição aconteceram principalmente no Nordeste. Cerca de 72% das pessoas que recebem o auxílio tinham, antes da pandemia, renda de até R$ 89 per capita mensalmente. “Menos de R$ 3 reais por dia para viver”, disse durante Live do Valor.

Essa parcela da população, explica, está ganhando muito mais agora, e a conexão que essa população faz do auxílio é com quem está no poder. A vitória, portanto, é de Bolsonaro, mesmo que a proposição do auxílio não tenha partido dele.

Outro fator para o aumento de popularidade foi o relativo silêncio mais recente de Bolsonaro. “Ele pegou Covid-19 e calado melhora muito o discurso dele”, diz.

Ao mesmo tempo, diz, o presidente saiu de cena na discussão de crises políticas, como a que envolve o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, e seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Fabrício Queiroz.

Para ele, os resultados da pesquisa não afetam a ideia que deu base ao movimento #somos 70porcento. Segundo o empresário, ainda são maioria os que refutam o autoritarismo, o terraplanismo, a não importância de preservar a Amazônia, entre outros. 

Essa “constatação matemática”, diz, se mantém. O processo de debate, porém, não é uniforme, às vezes a “crítica ganha momento”, às vezes “o governo ganha”.

Na seara da política econômica, Moreira acredita que o ministro da Economia, Paulo Guedes, precisa mudar a forma como exerce o cargo, se quiser continuar no governo. Até agora, diz, Guedes não conseguiu emplacar as ideias que defende como instrumentos para recuperação da economia. Pessoas próximas de Guedes, aponta, saíram do governo e muitas delas vão embora sem deixar um legado.

“Salim Mattar [ex-secretário especial de Desestatização] não fez nada, mas saiu com o mapa da mina”, referindo-se ao plano federal de privatizações. Guedes terá que mudar, diz Moreira, mas “dificilmente muda”, é “arrogante”. Se o ministro sair de seu cargo, o empresário avalia que o governo não sofrerá baque e ainda poderá anunciar outros nomes mais bem aceitos pelo mercado.

Ex-sócio do banco de investimentos Pactual e do Genial Investimentos, Moreira defende maior tributação sobre renda, capital, lucros e dividendos. Quando se fala de tributação, avalia, as pessoas se vêem em bloco, como se todos estivessem submetidos à mesma carga tributária, o que enseja um discurso por redução de impostos.

Na verdade, porém, declara, os mais pobres sofrem carga muito maior. Há estudos, diz, mostrando que quem ganha até um salário mínimo paga quase 50% do que ganham em impostos.

Os “ultrarricos”, diz, dos grandes conglomerados, jatinhos e iates, pagam menos. Nas pessoas desse grupo, aponta, 70% da renda não é tributada e os outros 30% que são tributados pagam alíquota abaixo do resto do mundo. As PECs 110 e 45 trazem simplificação, mas não falam em progressividade.

E muitos aceitam, prossegue, o discurso de que maior tributação sobre renda expulsa o investidor. “Se tributar dividendos, o rico vai tirar o dinheiro do Brasil e vai para onde, se em todo mundo é cobrado? Vai para Estônia?”, questiona. “É claro que não vão tirar o dinheiro que está aqui. O que vai sair eventualmente é um dinheiro superespeculativo que aproveita dessa situação. Esse dinheiro nem queremos.”



Veja: Desemprego se agrava e pode ser bomba social de efeito retardado https://bit.ly/2X75FJ6

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