Está
fora de hipótese uma política econômica honesta nos aspectos sociais
Bolsonaro é um desastre nacional crescente, até quando levado a um breve
alívio da fome dos indigentes
Janio de
Freitas, Folha de S. Paulo
Bolsonaro deve
festejar depressa o aumento em sua
aprovação de 32% para 37% da população adulta, com a rejeição em queda de 44% para 34%, como detectado
pelo Datafolha. A aparência
generosa desses números esconde uma situação paradoxal e, pior, crítica para o
futuro do próprio Bolsonaro, da economia e da eleição presidencial já em
esboços.
É coisa de gaiatos a interpretação bolsonarista de que a melhora
reflete satisfação com as alegadas medidas contra a pandemia e com a iniciada
reabertura das atividades econômicas. São claríssimos os indicadores da
contribuição determinante, para os novos números, do benefício
emergencial de R$ 600 mensais, para o qual se inscreveram 40%
da população. Aqueles que estão sem ocupação elevaram sua aprovação a Bolsonaro
em 12 pontos e diminuíram a rejeição em 9. No quesito ótimo/bom, o índice dos
que receberam o benefício mostra-se seis pontos acima dos que não o pediram e
cinco pontos acima da média nacional.
No
Nordeste, região que se destaca pela reversão de opiniões, os R$ 600 são o
único dinheiro disponível no caso de 52%. No geral, mais de metade dos que
receberam aquele meio salário mínimo, 53% deles, o usaram para comprar comida.
A fome, portanto. Fome sem retórica, verdadeira e cruel, razão incomparável
para reverter, como um agradecimento da indigente, a indiferença ou a rejeição
antes espontâneas.
Ao
custo, diz o governo, de cerca de R$ 50 bilhões a cada rodada de pagamento, o
benefício se revela a Bolsonaro como o caminho capaz de levá-lo à reeleição que
sempre atacou e agora é sua obsessão. Mas Paulo Guedes é direto: não há
dinheiro para pagar ainda o benefício emergencial. Seria um único pagamento, em
maio, de R$ 200 na humanidade máxima de Guedes e de R$ 600 na decisão do
Congresso. A realidade se impôs, sob a forma de temor da massa sem ganho algum
por força da pandemia, e veio a prorrogação até agosto/setembro. Agora, diz o ministro,
acabou.
No
dia mesmo em que o Datafolha preparava a divulgação da pesquisa, a quinta (13),
os noticiários mal disfarçavam a euforia
midiática com a declaração de Bolsonaro, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre reafirmando,
como compromisso, a regra neoliberal de teto dos gastos governamentais.
Arrocho, bem entendido. Era uma tentativa de aplacar a insatisfação que desmontava,
com pedidos de demissão, o grupo de Guedes na Economia.
Menos de 24 horas depois, estavam contrapostos o teto de gastos
e a continuidade do benefício como melhor perspectiva para Bolsonaro, os seus
militares e os filhos ampliarem sua permanência no poder, utilizando-o como
defesa e como mais queiram. E sem os riscos de tentar um golpe. Ao passo que o
teto, se satisfaz as contas e a renda dos neoliberais teóricos ou empresariais,
dificultará ou impedirá até a simples volta ao país anterior à pandemia. Com
vistas à eleição, um problema talvez sufocante para Bolsonaro.
Ocorre
que a escolha contra o teto incluiria uma derrota irreparável de Paulo Guedes.
Com provável pedido de demissão. Além disso, se falta dinheiro e a pandemia não
o promete, emissão de recursos e inflação não seriam surpreendentes. Com os
efeitos conhecidos.
Está
fora de todas as hipóteses sérias uma política econômica inteligente e honesta
também nos aspectos sociais. Logo, Bolsonaro é um desastre nacional crescente,
até quando levado a um breve alívio da fome dos indigentes. Realidade assim só
é possível em país ele próprio indigente.
Veja: O drama do desemprego no Brasil
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