Relacionamento abusivo não deve ser confundido com amor, pois pode terminar em feminicídio
Glauce Medeiros*
Os primeiros sinais de um relacionamento abusivo
parecem inofensivos. São confundidos até com expressões de amor. Não se engane.
A evolução dos graus de violência pode se dar rapidamente e terminar em um caso
de feminicídio, que nada tem a ver com paixão do algoz pela vítima. Quem ama,
não mata! O tema precisa ganhar sempre mais luzes na tentativa de impedir os
crimes de gênero. Neste artigo, abordarei algumas características do abusador.
Inicialmente, o relacionamento abusivo começa com a
expressão do sentimento de posse. Ciúmes e amor em excesso são comumente
utilizados para justificar um relacionamento controlador. As “brincadeiras” em
tons ofensivos à mulher, além de chantagens, mentiras, culpabilização,
ridicularização, intimidação, ameaças e humilhações, muitas vezes em público,
estão presentes em relacionamentos abusivos. A mulher que não viveu essas
situações, ao menos conhece outra que já passou por isso em reuniões familiares
ou em mesas de bar, por exemplo. É hora de tomar cuidado, pois a violência
tende a aumentar.
O grau de abuso chega a um nível mais perigoso quando
o homem começa a controlar os passos da mulher - monitorando com quem ela anda,
como ela se veste - ou passa a destruir bens. São sinais de que a mulher está
em situação de violência psicológica e patrimonial. O próximo nível é
fortemente expressado com violência física e apresenta-se com empurrões,
“tapinhas”, beliscões, chutes, abuso sexual, mutilação, confinamento, ameaça
com armas de fogo, brancas. Nesses casos, a situação é de emergência. Em todas
as relações abusivas, as mulheres precisam de ajuda profissional para sair do
ciclo, que se alterna sempre com momentos de arrependimento por parte do
agressor.
Existem, ainda, alguns termos em inglês para definir
expressões do relacionamento abusivo.O gaslighting, por exemplo, acontece
quando o homem tenta fazer com que a mulher questione sua sanidade mental.
Frases como: “Você enlouqueceu”, “Você está exagerando”, “Pare de surtar” ou
“Não aceita uma brincadeira” são bem comuns.
O mansplaining se dá quando o homem acha que sabe mais
do que a mulher e por isso precisa ensiná-la em explicações longas e
detalhadas, como se ela não tivesse capacidade de entender. Já o manterrupting
acontece quando o homem interrompe a fala da mulher, várias vezes, de maneira
desnecessária. Estas práticas acontecem também em ambientes de trabalho durante
palestras, reuniões e tomadas de decisões.
Outra expressão em inglês é o bropriating, quando o
homem se apropria da mesma ideia já expressa ou realizada por uma mulher e leva
os créditos por ela. Por trás desse comportamento abusivo, uma realidade: menos
mulheres em cargos de liderança em empresas.
A Prefeitura do Recife oferece às mulheres em situação
de violência doméstica e sexista atendimento especializado no Centro de
Referência Clarice Lispector, da Secretaria da Mulher do Recife. O equipamento
possui equipe multidisciplinar, formada por psicólogas, assistentes sociais,
advogadas e educadoras sociais e, para os casos mais graves, de vítimas com medidas
protetivas, o acompanhamento à mulher é feito pela equipe técnica e pelo
efetivo da Brigada Maria da Penha, formada por guardas municipais. As ações do
Clarice também foram descentralizadas
nos Compaz Dom Helder Câmara, no Coque; no Ariano Suassuna, no Cordeiro; e no
Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha. Com isso, as equipes estarão mais
próximas das mulheres.
Outro importante serviço para as mulheres oferecido
pela Prefeitura do Recife é o Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência
Sony Santos, ligado à Secretaria de Saúde do Recife. Funciona no Hospital da
Mulher do Recife, no Curado. No mesmo espaço, a vítima pode se submeter ao
exame pericial e fazer o boletim de ocorrência, além de ser atendida por uma
equipe multidisciplinar formada por médica, enfermeira, psicóloga e assistente
social.
Em casa ou no mercado de trabalho, é importante
estarmos atentas aos sinais do relacionamento abusivo. Identificar, reagir e
impedir o avanço dessas ações o quanto antes podem nos salvar. E salvar outras
mulheres. Compartilhe o máximo de informações sobre o assunto. Essa também é
uma forma de prevenção do feminicídio.
*Secretária da Mulher da Prefeitura do Recife
Veja: Tem uma
casca de banana na “polarização” Lula x Bolsonaro. Veja aqui https://bit.ly/3eLGZj1
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