A conspiração contra a lisura da eleição presidencial não foi de uma figura só
Aos procuradores da Lava Jato e
aos juízes nada sucedeu por sua atitude, respectivamente, preparatória e
consolidadora do ato de Moro
Janio de
Freitas, Folha de S. Paulo
Nem concluída ainda a votação, o Supremo Tribunal Federal já confirma a parcialidade de Sergio Moro contra o ex-presidente Lula da Silva, e nisso traz dois sentidos subjacentes. Se por um lado recompõe alguma parte da questionada respeitabilidade judiciária, por outro acentua a omissão protetora aos parceiros na deformação, pelo então juiz e a Lava Jato, do processo de eleição para a Presidência.
Muitas vezes identificado com Moro, o ministro Edson Fachin foi, no entanto, o proponente da aprovada anulação das sentenças contra Lula, invocando, entre outras, uma razão obscurecida no noticiário: constatou que o inquérito não encontrou prova alguma que ligasse o caso do apartamento em Guarujá a qualquer ato de corrupção na Petrobras, mas os procuradores fizeram tal acusação a Lula e Moro o condenou por isso. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, do Sul, manteve e até aumentou a condenação, seguindo o conturbado relatório do juiz João Gebran.
Aos procuradores da Lava Jato e aos juízes nada sucedeu por sua atitude, respectivamente, preparatória e consolidadora do ato de Moro. Foi, porém, para fortalecer o truque da falsa conexão Lula-corrupção na Petrobras, que Deltan Dallagnol criou o espetáculo paranoico, na TV, em que situou Lula no centro de um círculo de atos/pessoas, às quais seu nome se ligava. Eram os apontados como criminosos da Petrobras e, no centro, aquele a quem designou como "chefe da quadrilha".
O objeto da condenação —o apê em retribuição a negócio escuso na Petrobras— integrava o colar dos atos criminosos alegados. Mas o Supremo confirma a falsidade da inclusão. Essa constatação que expõe Moro dá oportunidade a outra figura raiada, em que ele e Dallagnol ocupem o centro, com raios projetados até os procuradores. O TRF-4 tem a mesma oportunidade gráfica, com o juiz Gebran ao centro.
O juiz, os procuradores, os juízes eram todos um propósito só. Abençoados ora por covardia, ora por semelhança de fins, no concílio do Supremo e pelo procurador-geral da República à época, Rodrigo Janot.
Ao menos no plano interno, que do externo o francês Le Monde já cuida sobre conexões de Moro nos Estados Unidos, a conspiração contra a lisura da eleição presidencial não foi de uma figura só.
Outros têm contra a Constituição, as leis e a lisura eleitoral, responsabilidades equivalentes ou assemelhadas à de Sergio Moro. Os Conselhos Nacionais da Justiça e do Ministério Público, por sua omissão, ostensiva e elitista, entram nesse rol.
Um dinheiro aí
Bolsonaro se castigando para ler um escrito de autor letrado é cena de humorismo. Empedrado, com medo de cada palavra, olhar de faminto, para mentir no varejo e a granel, desdizer-se, negar-se. É o espetáculo da vergonha sem vergonha. Contudo, rica em motivos.
A recusa
estúpida das altas contribuições da Noruega e da Alemanha ao Fundo Amazônia, já
nos primórdios do atual governo, pouco depois mostrou servir para afastamento
de protestos contra um plano de ação. O pedido de dinheiro, agora, é o
complemento do plano.
O assecla Ricardo
Salles providenciou o desmonte de todo o sistema defensor da
Amazônia. Serviço pronto, ou quase. O dinheiro pedido proporcionaria as
empreitadas para explorar a Amazônia desguarnecida. Com a facilidade adicional
prevista em projeto já na Câmara para liberação dos territórios indígenas à
retirada de madeira, criação de pastos e mineração.
Até aqui, nem
o desmonte de ser rentável. Quem achar que a proteção a garimpeiros ilegais e
desmatadores contrabandistas —como a preservação de seus equipamento
determinada por Bolsonaro e a suspensão de multas por Salles— são medidas sem
compensações, ainda não chegou ao governo Bolsonaro.
Os ritos
Comandos militares não cessam
de repetir que as Forças Armadas são protetoras da Constituição, das liberdades
democráticas, dos interesses nacionais, e por aí afora. Diz agora o novo
ministro da Defesa, general Braga Netto: "É preciso respeitar o rito
democrático". A frase pode ter muitos significados e nenhum. Nos dois
casos, é exemplar das formas nebulosas que são, sim, um modo de fazer política.
O general Villas
Bôas, então comandante do Exército, "respeitou o rito
democrático"? Os generais coniventes com as investidas de Bolsonaro contra
o Supremo e o Congresso estão "respeitando o rito democrático"?
Perguntas e exemplos assim podem ser centenas.
O impeachment,
as CPIs e processos criminais têm todos os seus ritos democráticos. As Forças
Armadas comandadas pelo general Braga Netto devem, pois, respeitá-los,
deixando-os a cargo das respectivas instituições —que não incluem quartéis.
.
Um governante sob fogo cruzado https://bit.ly/3xacpGr
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