Fato consumado
Luciano Siqueira
A pergunta clássica que se
faz em relação a CPIs – dará em pizza? – não cabe à recém-instalada no Senado para
apurar o desempenho do governo federal no trato da epidemia da Covid-19.
Desta vez, cabe o dito por
personagem de Guimarães Rosa: o que importa é o processo, não o resultado.
Ou, de outro modo: neste
caso, o processo já será o resultado.
Sofridas as primeiras
derrotas na tentativa de inviabilizar a CPI e, diante do fato consumado, controlá-la,
inclusive querendo impedir o relator senador Renan Calheiros, Bolsonaro e sua
trupe veem-se agora com um tremendo abacaxi à mão e sem nenhuma habilidade para
descascá-lo.
E sem força para tanto.
Até um dos próceres do “centrão”,
o senador piauiense Ciro Nogueira, do PP, parece disposto a jogar na dúbia
função de criar dificuldades e tentar obter vantagens nas suas relações com o
Planalto. Na eleição do presidente da Comissão votou contra o governo.
Em princípio, a correlação de
forças contra o governo é de sete a quatro. A que se soma a truculência e
inabilidade do presidente, que podem gerar muitos gols contra.
A pauta começará pelo
emblemático caso de Manaus, tragédia sob todos os títulos, visivelmente
associada à insensibilidade e à incompetência do então ministro da Saúde,
general Pazuello, que proclamou diante de câmeras de TV que apenas cumprir as
ordens “dele”, Bolsonaro.
Pazuello deve ser o primeiro
a depor na CPI, de uma lista inicial de 24 atuais e ex-integrantes do governo.
E a cada instante surgem mais
revelações comprometedoras. O que a CPI por acaso não venha a apurar, a grande
mídia antecipa.
Grandes e “pequenas”
mancadas, como a que registra Elio Gaspari em sua coluna na Folha de S. Paulo: “O programa Pátria Voluntária, aninhado no Palácio do
Planalto com o objetivo de recolher doações para enfrentar a pandemia, gastou
R$ 9,3 milhões para fazer propaganda de si e arrecadou R$ 5,89 milhões.”
Pois bem, se
não dará em pizza, dará em quê?
A propósito
de um comentário em meu canal no YouTube https://bit.ly/3u2SYgP
uma amiga me cobrou uma referência explicita à possibilidade do impeachment.
Respondi que
me parecia precipitada a afirmação, antes mesmo do início dos trabalhos da CPI.
Não há (ainda) na Câmara e no Senado uma correlação de forças favorável ao
impedimento do presidente.
E, por enquanto,
nas hostes oposicionistas os esforços parecem se concentrar no acúmulo de
forças para o pleito vindouro.
Entretanto,
a aspiração ao impeachment, que fervilha em boa parte da população convencida do
caráter genocida do presidente, é mais do que legítima.
E não se
pode de antemão supor que a CPI não venha a produzir alterações na cena
política a ponto de se interromper o governo.
No caos
semeado pelo presidente tudo pode acontecer, inclusive a sua queda.
.
Veja: Jovem aos 99 anos: destaque em nossa
história política https://bit.ly/3wfzW8u
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