22 abril 2021

Prejura na cena internacional

Na cúpula do clima, sob cerco

Luciano Siqueira

 

No segundo governo Dilma, configuradas as dificuldades de gestão da economia e uma correlação de forças extremamente adversa no Congresso, os tucanos proclamaram a palavra de ordem “fazer a presidenta sangrar” até o fim.

O fim, no caso, tanto poderia ser a inviabilização do governo, como de fato aconteceu, como a geração de um ambiente propício ao impeachment, que também aconteceu.

Passados mais de dois anos dessa coisa horripilante que é a gestão do presidente Bolsonaro, ninguém ainda usou a expressão “sangrar”, porém o desenrolar dos acontecimentos leva a algo parecido.

Com uma peculiaridade: o próprio presidente cria continuadamente situações que levam ao impasse do governo.

A resultante é o desenho estapafúrdio de uma governança inoperante e atabalhoada em todas as dimensões.

E um chefe de Estado rejeitado pela maioria dos brasileiros e visto na cena internacional como uma prejura política digna da mais inexpressiva republiqueta.

E é nessa condição que Bolsonaro falou agora na Cúpula do Clima, convocada pelo presidente norte-americano Joe Biden, da qual participam governantes de vinte países.

Disse ele: “A pesar das limitações orçamentárias do governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização".

Não se sabe se alguma alma viva presente ao conclave deu sinais de acreditar nisso.

A prática tem sido escandalosamente inversa.

Há uma espécie de “liberou geral” na exploração dos nossos recursos naturais, na Amazônia e em outras áreas, concomitantemente com o enfraquecimento da legislação pertinente e o desmonte das estruturas institucionais afins.

Mas o ex-capitão não tem a menor cerimônia ao sublinhar, em seu pronunciamento, que o Brasil "está na vanguarda do enfrentamento do aquecimento global".

Vanguarda do retrocesso, só se for.

Mas essa é tônica de toda e qualquer fala de Bolsonaro – seja em cerimônias como a de hoje, seja nos seus costumeiros encontros nada casuais com claques de apoiadores postadas diante do Palácio da Alvorada: a verdade é acoitada sempre.

Assemelha-se ao comandante de um exército que, mediante prolongada guerra, vê-se a cada dia sob cerco, perde gradativamente suas linhas de suprimento e já não tem como atrair hipotéticos aliados para resistir.

Inapelavelmente perderá a guerra. No caso, não se sabe ainda se no pleito presidencial de 2022 ou antes.

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