Para entender o futebol,
atleta precisa enxergar os detalhes no jogo
Esse
esporte se tornou planejado, científico, veloz, profissional e intenso
Tostão, Folha de S. Paulo
As
competições, na mesma época, da Eurocopa e
da Copa América,
são boas chances de comparar as características de jogo dos dois continentes.
A
técnica e a habilidade são essências no futebol. A técnica é a execução dos
fundamentos da posição, a lucidez nas escolhas durante o jogo e a inteligência
individual e coletiva, ou seja, a capacidade dos jogadores de perceber tudo o
que acontece à volta. É o terceiro olho, o do craque.
A habilidade é a capacidade de improvisar, de não perder a
bola diante do adversário e de fantasiar, de inventar. A habilidade é mais
natural, enquanto a técnica pode ser mais treinada, aprendida e desenvolvida.
Nos
anos 1960, a enorme superioridade da habilidade brasileira era decisiva. O
cineasta Pasolini escreveu, logo após a Copa de 1970,
que a poesia brasileira tinha ganhado da prosa italiana, embora o Brasil não
fosse somente poesia nem a Itália, somente prosa.
Com
o tempo, isso mudou, progressivamente. Os europeus, pelo maior desenvolvimento
econômico, social, estrutural e profissional, evoluíram também no futebol,
muito mais na técnica, na execução, no saber fazer, que passou a ser mais
importante que a habilidade e a inventividade. Além disso, os europeus passaram
a formar muitos jogadores habilidosos e criativos.
O
futebol se tornou tão planejado, científico, veloz, profissional e intenso que,
para o jogador entendê-lo e acompanhá-lo, precisa ter outras qualidades,
principalmente a inteligência coletiva, a virtude de, durante a partida,
enxergar os pequenos detalhes presentes no jogo.
Na
Eurocopa, Espanha e Itália farão uma das duas semifinais. São duas seleções que
se reinventaram depois do Mundial de 2018. A Itália, que eliminou a Bélgica,
não tem os melhores jogadores nem era uma das favoritas para ganhar a Eurocopa,
mas é a seleção que tem o melhor jogo coletivo.
Para
minha surpresa, a maioria das seleções europeias, incluindo as mais fortes, tem
feito uma marcação mais recuada, com oito a nove jogadores perto da área, para
contra-atacar. A Itália, que tinha uma grande tradição de futebol defensivo,
tem sido a exceção, pressionando o adversário e chegando com muitos jogadores
ao ataque.
Os
times brasileiros, nos últimos dois anos, evoluíram e têm seguido os modelos
europeus. O Palmeiras,
dirigido pelo português Abel Ferreira, costuma ter uma estratégia interessante,
diferente, ao alternar, em uma mesma partida, o número de defensores. Marcos
Rocha é zagueiro e lateral direito, de acordo com o momento.
Na
Copa América, o Peru eliminou o Paraguai e
enfrenta o Brasil, que ganhou do Chile por 1 a 0.
Mais uma vitória, mesmo jogando quase todo o segundo tempo com um a menos.
Quem
tem Neymar e Casemiro na proteção da excepcional zaga formada por Marquinhos e
Thiago Silva é forte contra qualquer adversário, ainda mais um da América do
Sul. Os outros jogadores do Brasil são também bons e, além disso, a seleção é
uma equipe organizada, disciplinada e que quer vencer todos os jogos.
Diferentemente
da Espanha, da Itália e das seleções médias da Eurocopa, que renovaram suas
equipes e evoluíram, o Chile, principalmente, e as outras seleções
sul-americanas, com exceção da Argentina, continuam com quase os mesmos
jogadores e com times inferiores aos que tiveram nos últimos anos. É um reflexo
dos graves e cada vez maiores problemas econômicos e sociais da América do Sul.
.
Veja: Na política, quem avisa que vai melar o jogo com tanta
antecedência bom sujeito não é https://bit.ly/2TUCwlA
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