20 outubro 2006

O que extrair dessa lição?

Roosevelt teve a chance de dar a volta por cima pela tecnologia. Foi para outra mídia – o rádio – e deixou os jornais conservadores para lá. E foi um campeão de reeleições.

Em abril de 2002, todas as redes de televisão da Venezuela conseguiram, por algumas horas, dar um golpe de Estado. Teria sido o primeiro golpe de Estado da televisão, na telinha – um golpe criado e realizado pelo que as redes mostravam na tela: o caos, a desordem, o desgoverno, a ingovernabilidade, a corrupção desenfreada. Sem falar, é claro, da oposição da imprensa escrita.

Quais são os meios de Chávez enfrentar isso?

Segundo a jornalista Alma Guillermoprieto, num artigo Don´t Cry for me, Venezuela, publicado em The New York Review of Books, Volume 52, Numero 15, de Outubro de 2005), Chavez fez duas coisas:

1) Criou um programa dominical Alô Presidente, em que, às vezes, fica no ar o dia inteiro.
2) Interrompe a programação das redes de televisão, entra em cadeia nacional, sem avisar, e critica os telejornais que acabaram de ir ao ar.

Uma vez, Chávez interrompeu por quatro horas toda a programação da noite, inclusive as “telenovelas”.

(A reprodução em texto dessas quatro horas pode ser encontrada no endereço www.analitica.com/bibliotec/hchavez/cadena20010615.asp).

Deixo de considerar aqui as soluções já exploradas por outros presidentes trabalhistas (ou aliados de trabalhistas), no Brasil.

Vargas, por exemplo, com a ajuda do banqueiro Walther Moreira Salles, estimulou Samuel Wainer a fundar a Última Hora. Juscelino ajudou Adolpho Bloch na Manchete. Brizola ajudou a Manchete e usava extensivamente a Radio Mayrink Veiga, no Rio.

Todas essas me parecem soluções politicamente irreproduzíveis, hoje, no Brasil. O Sindicato dos Bancários, no início do Governo Lula, cogitou de lançar um jornal nacional, mas a idéia nem saiu do papel.

A solução Chávez também é inconcebível.

O Governo Lula não enfrentou nem enfrentará a Rede Globo. A relação de Lula com a Globo é a mesma de Tony Blair com Murdoch (sem comentários...) E a solução Roosevelt – dar um salto tecnológico? É a mais plausível. Usar a internet.

Nenhum comentário: