No Jornal do Commercio, por Joana Rozowykwiat:
“Na minha escola, não há condutor pela metade”
Apontado por aliados como coordenador natural da sucessão, o prefeito João Paulo deixa claro que não vai exercer uma função de fachada. Em entrevista ao JC, na quinta-feira, o petista afirmou que “não existe condutor pela metade”. Frisou saber o que é “comando” e demonstrou que vai assumir as rédeas do debate sucessório no âmbito das forças governistas . Para isso, pretende ter autonomia para fazer a indicação do futuro candidato. “Em qualquer organização tem que ter hierarquia. Se é para ser comandante, tem que ser comandante”. Antecipou, inclusive, que não se baseará por pesquisas de opinião para tomar sua decisão. “É deformar o processo colocar pesquisa como elemento crucial para a disputa política. Muitos querem se pautar por esse único e exclusivo elemento”, criticou.
JC - Durante a última semana, vários aliados se posicionaram, preocupados com as questões internas do PT e cobrando do partido e do senhor ”um horizonte” para o debate da sucessão. Qual a sua avaliação sobre isso?
JOÃO PAULO - Acho que estamos vivendo um momento positivo, porque todos os que têm se colocado, têm externado, enquanto linha mestra, a necessidade de o PT construir a sua unidade. As visões que se colocam são de construção de uma candidatura que unifique as forças de esquerda. E também colocam que, se por acaso houver uma dificuldade maior no PT, haveria a possibilidade de outras candidaturas dentro do próprio campo. Agora acho que nós temos que ter muito cuidado para não acelerar esse processo (da sucessão), de forma que ele venha a comprometer a gestão, a execução dos nossos projetos. O PT já está tomando conta da importância do momento e acho que o que nós temos que ter, na verdade, são conversas. Acho que a precipitação de uma discussão mais acelerada, mais acirrada do processo eleitoral, tem riscos de comprometer a administração. Concordo com a avaliação do governador Eduardo Campos na perspectiva de que o processo deve ser mais deflagrado mesmo a partir do próximo ano.
JC - Essa preocupação com a contaminação da gestão é por conta de um possível acirramento no PT ou entre os aliados?
JOÃO PAULO - Acho que a contaminação se dá das mais diversas formas. Dentro do governo, com os secretários, nós não temos absolutamente problemas. O problema é extra-governo. São os desdobramentos dessas discussões antecipadas que podem repercutir negativamente no governo.
JC - Alguns aliados, inclusive o PCdoB, estão preocupados com a questão da disputa interna no PT...
JOÃO PAULO - Veja bem, há uma dificuldade do PCdoB na relação com o PT nacional, em relação à questão de Aldo Rebelo. Há também dificuldades em relação ao campo majoritário do partido e algumas dificuldades no interior da CUT, isso Luciano Siqueira deixou claro. Ele também sinalizou, na sua entrevista, que existem muitas experiências em que o PCdoB vive de forma muito harmoniosa com o PT. A meu ver, é o caso aqui do Recife e não vai haver uma contaminação por causa dessas dificuldades com o nacional. O PT nacional tem que estabelecer, na relação com os partidos do campo de esquerda, uma política de convivência para que possa haver esse equilíbrio. Pela maturidade do PT e do PCdoB, há bastantes perspectivas de não haver uma ruptura.
JC - Mas os aliados, no Recife, cobraram uma posição ao PT.
JOÃO PAULO - Acho que os partidos sentem a necessidade, e eu concordo, de que o PT possa construir sua própria unidade interna. Porque se nós temos a prefeitura, eu sou o prefeito, e eles me dão a responsabilidade da coordenação do processo, então, eu tenho que ser o coordenador. Agora eu não posso ser o coordenador na medida em que nós não começamos com um entendimento interno dentro do próprio partido. Acho que as conversas que eu tenho mantido com as forças, com o próprio Humberto (Costa), com Dilson (Peixoto), com a Articulação de Esquerda, a DS (Democracia Socialista), sinalizam para a construção dessa unidade.
JC - Como o senhor está se sentindo, sendo apontado como condutor, mas sendo cobrado?
JOÃO PAULO - Não existe condutor pela metade. Ou é ou não é. Essa é minha escola de formação. Eu venho de duas formações: uma religiosa - da Igreja tradicional e depois da teologia da libertação - e outra comunista revolucionária, com muita disciplina, que sabe o que é comando. Em qualquer organização tem que ter hierarquia. Ou se comanda ou não se comanda. Se é para ser comandante, tem que ser comandante.
JC - Quais serão os critérios para a escolha do candidato dentro do PT? O que mais vai pesar na decisão?
JOÃO PAULO - O bom senso. Porque acho que é um processo de discussão política. Todos os nomes têm amplas condições de disputar a eleição, seja dentro do PT, do PCdoB. Agora se eu vou coordenar o processo, a primeira coisa que nós temos que ter é a maturidade para compreender uma coisa. Muitas vezes tem saído de forma equivocada o seguinte: João Paulo vai coordenar, mas não vai fazer a indicação do nome. Segundo: que não pode ser nenhum nome que não tenha viabilidade eleitoral. Temos que ter bastante maturidade para entender o seguinte: primeiro, que não é um resultado de pesquisa eleitoral agora, fora de uma conjuntura política, que vai definir que aquele que esteja melhor na pesquisa de opinião será o candidato com mais condições de ganhar. Isso é uma questão falsa. Quando eu comecei a minha candidatura em 2000, tinha 5% das intenções de votos e me elegi numa eleição imbatível. Na última eleição para prefeito, começamos a campanha com uma rejeição de 54% nas pesquisas, com dois candidatos na minha frente, e ganhamos no primeiro turno, porque, para a sociedade recifense, preservou-se a continuidade de um projeto político e administrativo. Vencendo essas duas premissas (da indicação e de não se pautar exclusivamente por pesquisas), vamos construir uma unidade maravilhosa.
JC - Já que o senhor não acredita que as pesquisas devam interferir na escolha do candidato...(interrompe a pergunta)
JOÃO PAULO - Eu só estou dizendo que pesquisa é coisa relativa nesse processo. Já tivemos pesquisas em que nós estivemos muito bem e não ganhamos. Na eleição para o Senado (2002), Humberto liderava com uma margem de grande diferença para José Jorge e nós perdemos. Estivemos sempre na frente de Eduardo Campos (2006) e foi ele que passou para o segundo turno e se elegeu governador do Estado. Eu acho que é deformar o processo querer colocar isso como elemento crucial para a disputa política. Disputa política é de projeto, idéias, estratégia de campanha, de performance de candidato, são muitos elementos que contribuem. Não podemos ter a miopia de pegar esse instrumento como se um resultado de pesquisa, há quase dois anos da próxima eleição, seja o elemento fundamental. E muitos, às vezes, querem se pautar por esse único e exclusivo elemento.
JC - O fato de um candidato ser mais ou menos desconhecido da população também não pesaria na decisão?
JOÃO PAULO - É lógico que não, tem muito tempo ainda para a eleição.
JC - Há, entre os nomes cogitados no PT, alguns com melhor trânsito entre os aliados. Isso será levado em conta?
JOÃO PAULO - São coisas distintas. O que existe é uma relação política entre PT, PSB e a frente. Essa é a essência e é o que vai ser levado em conta. Isso (a relação individual do candidato com os partidos) se constrói.
JC - Existe possibilidade de a sua indicação contrariar o desejo dos demais partidos?
JOÃO PAULO - Eu não sei o que é contrariar os outros partidos. Não vi nenhuma rejeição a nenhum nome colocado até agora, seja o de Lygia (Falcão), seja o de João da Costa....
JC - Para alguns petistas, há nomes no partido que não representam a continuidade do seu projeto. O senhor concorda?
JOÃO PAULO - Acho que qualquer nome do PT seria a continuidade. Agora têm estilos, prioridades e personalidades diferentes, mas na essência da proposta acho que há identificação. Tem uns mais parecidos comigo, outros mais parecidos com outros.
JC - A escolha do candidato de 2008 levará em conta o pleito de 2010?
JOÃO PAULO - Não. O que está em discussão é 2008. É lógico que, sem sombra de dúvida, mantendo-se a questão da reeleição, o nosso caminho é apoiar a reeleição de Eduardo Campos (PSB) para governador. Não tem sentido termos uma outra posição em 2010, nem - é claro que ainda está muito longe - de termos mais de uma candidatura da esquerda.
JC - Como estão as relações internas no PT?
JOÃO PAULO - É lógico que, no PT, há algumas questões que parecem polêmicas, porque tem uma visão muito democrática dentro do PT, mas sempre nos consolidamos na unidade. Fizemos isso já em 2000, quando Humberto Costa era candidato, depois retirou e terminou que eu fui o candidato. Fizemos também em 2002, 2006, e 2008. Uma posição diferenciada aqui e ali não compromete, ao meu ver, a essência do PT.
JC - No seu grupo político, o senhor era a única liderança mais destacada. No ano passado, trabalhou a eleição de João de Costa, agora o nome de Lygia também está sendo debatido para a sucessão. Isso tudo faz parte de alguma estratégia para fortalecer os nomes da sua confiança?
JOÃO PAULO - O nome de Lygia foi colocado muito mais por um desempenho profissional. Pela dedicação ao governo, por estar em uma secretaria estratégica, pelo tipo de relação que ela estabeleceu com diversos setores da sociedade. Isso não foi uma coisa que surgiu dela, tanto que, há um bom tempo, quando eu falava na sucessão, eu sempre citava ela como primeiro nome e nunca ninguém se apercebia que poderia ter essa possibilidade. Mas foi a partir da imprensa que isso tomou um corpo maior. Não há estratégia. O caso da candidatura de João da Costa, mesmo quando diziam que ele era desconhecido, ele teve uma extraordinária votação. Isso não é estratégia, é uma relação que temos construído ao longo desse tempo de militância e convivência política.
JC - O PT perdeu, nessa última semana, o controle da condução do processo sucessório municipal?
JOÃO PAULO - Muito pelo contrário. Todos os partidos têm colocado preocupação pelo processo de construção de unidade interna do PT, que é sempre apontado como responsável pela coordenação do processo.
JC - A divisão interna pode colocar em risco uma melhor solução para a sucessão?
JOÃO PAULO - Não, acredito que não. Espero que a gente tenha um partido com unidade maior em torno da construção partidária, porque, na verdade, as forças políticas consomem uma energia muito grande com o seu grupo e esse potencial muitas vezes deixa de ser utilizado no projeto geral. Mas isso faz parte da própria formação do partido, que veio de diversas matrizes ideológicas, de igreja, intelectuais, organizações revolucionárias, etc.
JC - A recente polêmica das filiações em massa no Partido dos Trabalhadores do Recife, em sua maioria da corrente Unidade na Luta, pode interferir no processo sucessório?
JOÃO PAULO - O que se chama de filiação industrial? Ah, nós já tivemos problemas com isso em alguns momentos. Mas também já houve momentos que não teve problema. É lógico que temos que construir um processo de filiação que seja de conscientização política, não seja para ganhar encontro, para fazer maioria. Até mesmo porque aí se cria um um resultado artificial. Mas se o partido está em uma campanha de filiação, todos estão com a responsabilidade de filiar. Então não acredito que haverá disputa interna acirrada para trazer seqüelas irreparáveis para o partido por conta das filiações. Sim, porque acho que seria um suicídio coletivo.
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