Na Folha de Pernambuco, porMarileide Alves:
João Paulo garante permanência do PCdoB na aliança
Nos últimos dias, o PT no Recife protagonizou mais uma crise interna. Não bastaram a polêmica do aumento salarial do prefeito e a das filiações em massa. O mais recente conflito se deu por conta da derrota de João Paulo (PT) na Câmara, com a aprovação, quase que por unanimidade, da emenda da LO que equipara o piso dos arquitetos e engenheiros municipais ao dos federais. Nesta entrevista, o prefeito chega a dizer que os vereadores petistas que votaram a favor da proposta tiveram “um surto partidário”. Chamou as filiações recentes ao partido de “industrial” e tentou amenizar as declarações dadas pelo vice-prefeito, Luciano Siqueira (PCdoB), que expôs seu desconforto com as brigas internas do PT.
. O presidente Oscar Barreto defendeu a posição do vereador Jurandir Liberal, que votou a favor da emenda sobre o piso salarial dos arquitetos e engenheiros municipais, dizendo que ele votou a favor porque não havia posição do PT sobre o assunto. Faltou comunicação entre o Executivo, a base do Governo e o partido?
- Foi um surto corporativo do nosso vereador, ou dos nossos vereadores (Jurandir e Eustáquio). Mas que já passou. O partido já tomou uma posição. Isso está resolvido. O que houve foi uma dificuldade. E o partido se manifestou a partir de uma dificuldade, porque antes não havia. Até porque eu tinha feito uma reunião com as entidades classistas e o próprio Jurandir Liberal. Tinha me comprometido em fazer um estudo e, se houvesse possibilidade, nós implantaríamos. O caminho já estava todo certo. Então surgiu a dificuldade e o partido agora já resolveu. Estamos todos resolvidos.
. A bancada do PT saiu fragilizada?
- De jeito nenhum. O que eu acho é que a gente tem que ter muito cuidado nas nossas decisões políticas. Nós temos que ter muita responsabilidade. Porque qual é a preocupação? Se um vereador do PT tem essa atitude com o prefeito que é do PT, imagine o que pode acontecer com um aliado? Gera um clima de desconfiança na relação com o PT ou com parte do PT. Então ou se é governo ou não é governo, e quem é governo tem que ter atitude de governo. Ser governo tem ônus e bônus...
. Recentemente, integrantes do PT decidiram que seria hora de debater a eleição de 2008. O senhor alega que não é a hora porque pode interferir na governabilidade. O desgaste dos possíveis nomes também seria um problema, na sua opinião?
- Não tem nenhum nome desgastado, muito pelo contrário. Todos os nomes colocados são nomes importantes, que têm história na cidade e isso tem que ser levado em consideração
. Mas o senhor vai participar das discussões do partido, agora?
- A minha preocupação não é nem que não se converse. A minha preocupação é só que essa discussão possa permear a gestão. Então fora disso, para se conversar, não é problema, não. Conversas internas.
. Alguns argumentam que foi um erro colocar o nome de João da Costa com muita antecedência. O que o colocou em uma posição de desgaste perante ao próprio partido, tendo em vista que não há consenso na legenda ...
- Como é que um cara que teve 65 mil votos pode estar desgastado? Não, João da Costa está bem. Um bom nome em condições de disputar também. Não tem nenhum desgaste.
. Hoje, cerca de sete meses depois do episódio, o senhor faria esse “lançamento” novamente?
- Eu não lancei ninguém, porque quem lança o candidato é o partido. Eu disse que achava que era um nome importante para a minha sucessão, que eu tinha esse desejo. Mas quem vai fazer a indicação é o partido.
. Mesmo sendo o senhor o condutor do processo do próximo pleito, muitos dizem que é preciso apresentar nomes que sejam efetivamente viáveis. Qual o prazo que o senhor dará para que os supostos candidatos ligados ao senhor - como João da Costa e Lygia Falcão - se posicionem bem nas pesquisas?
- Esse negócio de viabilidade, se eu fosse usar isso como critério, e o partido também, eu não seria prefeito da cidade. Porque quando eu fui indicado, eu tinha 4%, 5% da intenção de voto e me elegi prefeito. Então, acho que esse critério, colocado da forma que ele está, é equivocado. Não é questão de pesquisa, é questão de discussão política, é questão de projeto. O candidato meu sucessor, indicado por mim, vai representar um projeto político. Ele não me representa só. Representa o governo, a gestão, os avanços, e, possivelmente, vai representar o governo municipal, o estadual e o federal.
. O nome para sua sucessão deve ser do PT ou pode ser de um partido aliado?
- Minha tese é que o candidato deve representar essas coisas. O PT como sendo hegemônico, o partido que está no Governo, que tem o prefeito, vai coordenar o processo e fazer a indicação do nome, como deve ocorrer em Olinda, com Luciana, e como deve ocorrer com a indicação da própria reeleição de Eduardo Campos. Isso tem que ficar muito claro.
. O PCdoB andou mostrando uma certa inquietação com a falta de entendimento dentro do PT. Qual foi sua avaliação sobre as declarações dadas pelo seu vice Luciano Siqueira? Elas abalaram a relação do PT e do PCdoB no Recife?
- Eu acho que as declarações vêm colaborar no sentido de ajudar na discussão, a colocar a sua visão. Acredito que, como um aliado nosso, uma opinião dele não é nada que vá comprometer o processo de uma política de aliança em relação ao que nós temos. Acho que ele tem algumas dificuldades do PT com o PCdoB no âmbito nacional. A própria eleição da mesa de Arlindo Chinaglia (presidente da Câmara dos Deputados) mostrou isso. Mas Luciano deixa bem claro que isso não vai se reproduzir numa dificuldade aqui no Recife e Olinda. Não tem nada a ver. O problema é nacional.
. É possível que, não havendo entendimento entre o PT ou mesmo faltando consolidação de um nome para o próximo pleito, o partido opte por apoiar o nome de Siqueira?
- A meu ver não tem possibilidade de a gente desunir o que está unido. Porque o homem não separa o que a política uniu aqui no Recife, em Pernambuco e no Brasil. Vamos chegar ao consenso. Mas, essencialmente, a preocupação é no sentido de que essas discussões não venham comprometer a gestão.
. Caso a reeleição seja vetada, e Campos não se candidate à reeleição, o senhor se imagina um nome capaz de unificar as esquerdas para o Governo do Estado em 2010?
- Primeiro eu não acredito que vá ser tirada dos governadores eleitos a possibilidade de reeleição. Eu mesmo defendo a tese de se discutir um mandato único só depois da próxima eleição para governador. E trabalhar sob suposição é muito complicado. Eu acho que, no Congresso, não passa. Não vão tirar dos governadores a possibilidade de reeleição, já que eles se elegeram com essas possibilidades, como os prefeitos, nesse mandato agora. O PT tem uma posição contra a reeleição. Então eu sou a posição do partido. Agora, há controvérsias sobre isso. Eu não acredito que o Congresso Nacional vá tirar deles uma prerrogativa que já está assegurada constitucionalmente. Acho que o ideal é trabalhar mudanças para os próximos governadores eleitos. Essa é a minha posição.
. Tem uma lacuna de dois anos depois da eleição de 2008. O senhor já pensou o que vai fazer quando deixar a Prefeitura, que caminhos pretende seguir?
- Não sei nem se estou vivo daqui para lá. Minha preocupação agora é terminar o governo. E bem. Essa é minha maior preocupação.
. E essas filiações em massa?
- Industrial? É lógico que numa sociedade moderna o processo de produção industrial é mais do que importante. Quanto às filiações em massa, já trouxeram, em outra ocasião, problemas no partido, e houve momentos em que não trouxeram. Acho que, com o amadurecimento em que o partido está, essas filiações não vão trazer dificuldades. Até porque não vai ser uma força hegemônica que vai impor às outras uma posição. Isso tem que ser um processo construído pelo diálogo. Eu estou acreditando nesse processo.
. Então elas vão ser validadas?
- Independente delas serem validadas ou não, isso não vai interferir no processo porque nós vamos construir a unidade interna no partido. A gente está na campanha de filiação. Eu não acredito que, pelo nível de maturidade que o partido tem, governando o Brasil, a Prefeitura do Recife, vendo os estragos que nós já fizemos, como foi no Rio Grande do Sul, apoiando o Governo do Estado, a gente vai entrar numa luta fraticida que ninguém vai ganhar absolutamente nada. Eu estou apostando que vai haver o equilíbrio. Agora, se não houver, nós vamos trabalhar.
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2 comentários:
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“Será preciso muita maturidade política, sentido de responsabilidade e respeito a ideais mais elevados para conter os egos inflados e pensar no prejuizo que se abaterá sobre as esquerdas se a fragmentação dessas forças ocorrer em 2008. A hipótese de lançamento de duas candidaturas não será nociva, se a caminhada até lá for respeitosa entre os atuais aliados.”
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“Será preciso muita maturidade política, sentido de responsabilidade e respeito a ideais mais elevados para conter os egos inflados e pensar no prejuizo que se abaterá sobre as esquerdas se a fragmentação dessas forças ocorrer em 2008. A hipótese de lançamento de duas candidaturas não será nociva, se a caminhada até lá for respeitosa entre os atuais aliados.”
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