12 outubro 2011

Na coalizão partidária, os dedos da mão não são iguais

A distância entre a divergência e a ruptura
Luciano Siqueira

Para o Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Os dedos da mão não são iguais, ensina a sabedoria popular quando se trata de absorver divergências no grupo familiar, entre amigos e, porque não?, na vida política.

Dom Helder Câmara advertia: “Se diferes de mim, tu me enriqueces”, numa afirmação precisa da tolerância.

Toda coalização partidária pressupõe unidade e luta, dizemos nós do PCdoB. Juntam-se partidos obviamente diferentes, concertados em torno de objetivos táticos de curto e médio prazo, sem que nenhum abra mão de suas concepções teóricas, ideológicas e programáticas. Daí a permanência de discrepâncias que, em certas circunstâncias, vêm à tona, demandando debate.

Mas entre naturais divergências, de conteúdo ou de método, e a ruptura de uma determinada coalizão partidária vai uma enorme distância. Salvo quando os atores envolvidos perdem a serenidade e superpõem o secundário e pontual ao ideário comum. Inverte-se a equação, geram-se desentendimentos de repercussões difíceis de controlar. Mais ainda quando se troca a mesa de discussão pelas páginas dos jornais.

A Frente Popular de Pernambuco corre o risco de se chamuscar em decorrência de tensões exageradas motivadas pela troca de legenda de algumas lideranças locais de certa evidência, tendo em vista a peleja eleitoral de 2012. E também pela incontinência verbal de alguns, que de precipitam em ilações a propósito de candidaturas e alianças, quando se tem até junho do ano vindouro (mês das convenções partidárias) para o debate e a busca de entendimento.

No rol dos motes das reações imediatistas e precipitadas está a manifestação do desejo de encabeçar a futura chapa para o Executivo, expresso por lideranças de partidos coligados. Ou seja: o município é gerido por um quadro de determinado partido, e da base governista surgem pretensões majoritárias – cuja legitimidade não se pode descartar preliminarmente. Até aí, nada de mais. O time está ganhando, vem a nova fase do campeonato, em princípio nada impede que se debata a possibilidade de mudar este ou aquele jogador para assegurar a competitividade necessária.

Além disso, a Frente Popular não está em campo sozinha, claro. A oposição, mesmo combalida e sem discurso, procura arregimentar suas forças para ir à luta. Em determinados municípios, o comportamento dos adversários pode recomendar flexões táticas, inclusive a adoção de mais de uma candidatura governista.

Precavido – permitam que aqui faça o registro -, o PCdoB no Recife assinala em Resolução Política recém-aprovada: “Considerando que o cenário das eleições de 2012 ainda está por se desenhar e importantes variáveis passarão a atuar a partir dos primeiros meses do ano vindouro, o PCdoB prioriza, nas atuais circunstâncias, a construção da unidade em torno de uma candidatura majoritária única, sem entretanto descartar nenhuma outra alternativa tática que venha a ser pactuada na Frente Popular.” Mais claro do que isso só a luz do dia.

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