27 outubro 2011

Bom dia, Adalberto Monteiro

A meu partido
(variação de um poema de Pablo Neruda)

Fora de ti, embora que ardente,
embora que fogo,
eu seria uma frágil fagulha,
um doce alimento do vento.

Em ti continuo a ser fagulha
mas integrante das chamas,
das labaredas
que escuridão e lama
nenhuma conseguirão deter.

Fora de ti,
sou um “indivíduo …
nada mais”.
Em ti,
continuo sendo um pigmento
mas um pigmento rubro
da vermelha aurora
que o sol hasteia
a cada manhã.

Fora de ti,
sou homem frágil
atirado ao mar;
lá já estive
e me lembro o que eu era:
um homem com punhos cortados
e a alma ferida;
não que eu não amasse, sempre amei,
não que eu não guerreasse,
sempre na guerra estive.

É que sozinho
eu me julgava
um guerreiro de uma guerra
já perdida,
um cavaleiro de um princesa
já sem vida.

Sozinho, muitas vezes às cegas
eu vagava,
e os meus olhos
eram só sal e água.

Sozinho, eu me sentia
uma caça miúda com a qual
o inimigo se divertia.

Contigo, estou em toda parte,
sou muita gente,
tenho muitos nomes:
sou greve, sou tocaia,
sou guerrilha
sou beijo
sou canção.

Contigo,
aprendi que o futuro
não é uma toalha de renda
bordada
pelas mãos divinas.

O futuro
— ensinaste-me —
nossas mãos unidas
vão arrancando,
vão talhando,
esculpindo, polindo,
na rocha bruta,
áspera
adversa
do presente.

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