Política de partido e política de coalizão
Luciano Siqueira
Para o Blog da Folha
Pode parecer contraditório, mas autonomia e independência rimam com unidade e coesão nas relações entre partidos políticos coligados. Porém na prática não é simples.
Não são poucos os exemplos de partidos políticos que em certas circunstâncias se deixam diluir no conjunto formado pela coalizão de que participam, ou até adotam em certa medida submissão em relação ao partido hegemônico. E se dão mal. Perdem a iniciativa, deixam de contribuir de modo mais efetivo com suas próprias análises e opiniões.
De outra parte, registram-se à exaustão, Brasil afora, casos em que o partido hegemônico erroneamente tenta impor suas posições aos demais, sem a indispensável ausculta e participação de todos. Confunde hegemonia com hegemonismo e mete os pés pelas mãos.
A boa prática recomenda o equilíbrio. Se há decisões importantes e estratégicas que um partido deva tomar, e que impliquem consenso e mobilização da vontade coletiva, será sempre uma temeridade tomá-las à revelia do sentimento e das expectativas dos aliados. Ao invés de reforçar a unidade, leva ao risco de desagregação.
A hegemonia se exerce na amplitude e na pluralidade. Olhar apenas para o próprio umbigo é o caminho mais fácil para o auto isolamento.
Mais: quem quer unir em torno de si há que fazer o dever de casa e se apresentar unido. Muitos casos de insucesso de frentes amplas e inicialmente poderosas têm tudo a ver com tensões internas incontornáveis no partido momentaneamente hegemônico. Campanhas majoritárias corroídas pela ameaça permanente de desagregação fraticida dificilmente alcançam a vitória.
O comentário é oportuno porque após o dia 7 próximo terão lugar, de fato, as gestões preliminares entre os partidos políticos tendo em vista a busca de entendimentos a se concretizar de janeiro em diante. Todos dialogarão entre si, respeitando obviamente as peculiaridades, os interesses e a autonomia e a independência de cada um. Levando em conta as diferenças de compreensão da conjuntura e partindo do pressuposto de que toda pretensão é em princípio legítima – desde que pactuada no interior da coalizão partidária.
Em Pernambuco, a Frente Popular já vive esse desafio tendo como vetor as eleições municipais vindouras. Em muitos municípios partidos solidamente unidos em plano estadual estarão em campos opostos na disputa do poder local. O que é natural, compreensível e passivo de boa administração, sem que divergências imediatas tenham que necessariamente respingar na desejada unidade em 2014.
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