"Dois paradoxos e a construção civil: o mercado de trabalho na RMR"
Jorge Jatobá*
A despeito da desaceleração no crescimento da economia em decorrência das medidas de contenção da demanda agregada no primeiro semestre de 2011 e, posteriormente, como resultado da crise que está afetando os países da Zona do Euro e os Estados Unidos, o mercado de trabalho brasileiro e pernambucano está apresentando baixas taxas de desemprego. Ou seja, parece haver um descompasso entre o crescimento da produção e das vendas e o desempenho do emprego. Aqueles não estão bem, mas este continua ótimo. O que explica este paradoxo? De fato, parece que atualmente a associação mais forte é entre investimento e emprego e não produção e emprego. O que está puxando o mercado de trabalho não é o crescimento da atividade produtiva corrente, mas o crescimento dos investimentos destinados a aumentar a capacidade de crescimento futura.
Há um segundo paradoxo. Em dezembro de 2010, a taxa de desemprego (IBGE/PME) na Região Metropolitana do Recife (RMR) relativa à força de trabalho com menos de oito anos de estudo (6,1%) foi menor do que a observada para as pessoas com escolaridade entre oito e dez anos (10.0%) e para aquelas com mais de 11 anos (6,5%). Quem tem menos escolaridade no Recife Metropolitano tem mais facilidade de encontrar emprego do que quem tem mais?
A resposta para os dois paradoxos repousa na atual fase do ciclo econômico e na identificação de qual setor está liderando o crescimento da economia. O atual ciclo de desenvolvimento em Pernambuco tem sido liderado pela construção civil. Esse crescimento é saliente não apenas nas estatísticas do PIB, mas sobremodo nos dados do mercado de trabalho formal onde o número de empregos na construção civil vem se expandindo a taxas excepcionalmente elevadas ( 23.5% ao ano entre 2005 e 2010, segundo a RAIS/MTE).
O crescimento pujante da construção civil vem gerando postos de trabalho para engenheiros e mestres de obras e ocupações assemelhadas e medianamente qualificadas e, sobremodo, para os peões (pedreiros, assistentes de pedreiros) que são aqueles trabalhadores de baixa qualificação que metem a mão na massa. Esse grupo é o que tem menos de oito anos de estudo e é este segmento da força de trabalho que vem apresentando na RMR taxas de desemprego cadentes e abaixo daqueles que possuem mais de oito anos de escolaridade. Mas no futuro esse grupo se adequadamente preparado terá muitas oportunidades de conseguir emprego de melhor qualidade enquanto aqueles que estão no espectro mais baixo da qualificação terão mais dificuldades especialmente se o boom na construção se desacelerar ou se o progresso técnico exigir mão de obra mais qualificada para as tarefas da construção civil.
Passada a fase de implantação dos empreendimentos, estes entrarão em operação demandando menor volume de mão de obra e ofertando postos de trabalho de melhor qualidade que terão de ser preenchidos por trabalhadores mais bem qualificados. É emblemática dessa situação a Refinaria Abreu e Lima que no pico da sua construção absorve trinta mil trabalhadores, mas que na primeira fase de sua operação plena demandará apenas mil, estes com perfis totalmente distintos daqueles.
Portanto, explica-se porque o mercado de trabalho está em descompasso com o crescimento da produção e porque aquele trabalhador com menor escolaridade tem menor taxa de desemprego do que aquele com maior. Todavia, no futuro essa situação pode ser reversa. Além disso, se o crescimento da economia for sustentável, voltaremos a ter forte associação entre produção corrente e emprego. Mas se os investimentos caírem, o elo com o emprego será fragilizado comprometendo mais na frente o ritmo do avanço econômico. Infelizmente e apesar dos nossos desejos pela sustentabilidade, o crescimento econômico é intrinsecamente instável. Não fosse assim, os economistas teriam pouco que pensar e escrever.
Fonte: Revista Algomais / Ano 6 / Nº 70 / Janeiro de 2012* Jorge Jatobá é Economista e Sócio da CEPLAN
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