Um bom sinal, mas há muito que avançar
Luciano Siqueira
Publicado no Blog do Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Se muito caminhamos sob condições adversas, mais ainda podemos ir se superarmos obstáculos que temos pela frente. Óbvio, porém difícil quando se trata da melhoria das condições de vida dos brasileiros. Vejamos.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acaba de divulgar números expressivos acerca do índice de vulnerabilidade dos domicílios brasileiros. Há progressos significativos em diversos aspectos, sobretudo quanto ao – queda da vulnerabilidade em 20,3% -, e escassez de recursos, redução de 24,2%.
O Ipea estabelece o índice de vulnerabilidade das famílias a partir de dados colhidos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE). Seis variáveis são contabilizadas: vulnerabilidade, acesso ao conhecimento, acesso ao trabalho, escassez de recursos, desenvolvimento infanto-juvenil e condições habitacionais. Como explica o boletim do Instituto, o propósito é identificar geograficamente dimensões variadas que afetam as famílias brasileiras, em seus domicílios, sem a consideração da ação do Poder Público na reação dessas famílias às dificuldades, bem como suas possibilidades de acesso à melhor qualidade de vida.
Assim, no atual estudo, destaca-se a melhoria relativa ao desenvolvimento infanto-juvenil, com queda da vulnerabilidade em 25%. Na outra ponta, onde o avanço foi menos significativo é quanto ao acesso ao conhecimento, guardando relação direta com a baixa qualificação profissional.
Indicadores estatísticos têm valor na medida em que ajudam a mapear necessidades e desafios a serem contemplados pelas políticas públicas. Os avanços ora anotados em grande medida são produtos da combinação da retomada do crescimento econômico com programas sociais, encetados com força a partir do primeiro governo Lula. A melhoria do índice de vulnerabilidade dos domicílios no país, alterado em 14%, dá-se justamente em relação à média detectada em 2003.
Caminhamos numa boa direção, portanto. Mas não iremos muito longe sem destravarmos plenamente o desenvolvimento do país, especialmente superando a equação restritiva representada pela combinação de juros altos, câmbio sobrevalorizado e vulnerabilidade ao fluxo não controlado de capitais externos. Na esteira disso, a recuperação em nível mais elevado da capacidade de investimento público em infraestrutura, que alavanca o crescimento.
Índices sociais não melhoram de modo consistente e duradouro à margem do desenvolvimento econômico. Políticas públicas compensatórias esbarram na contradição entre os limites do seu financiamento e na necessidade de inserção no sistema produtivo de contingentes extensos da população.
Daí a conclusão de que o estudo do Ipea ajuda a pressionar por mudanças substanciais na política macroeconômica.
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