12 maio 2016

Luta segue sob novas condições

Capítulo de uma longa história
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

A partir de hoje, consumada a deliberação do Senado pela admissibilidade do impeachment, simplesmente não se virará a página e outro tempo de tranquilidade se inaugurará no Brasil.
Uma inflexão política e institucional de magnitude, sim. Obviamente. Afinal, pune-se a presidenta da República essencialmente pela perda de base parlamentar de sustentação e não pela prática comprovada de crime. 
Uma ruptura da ordem constitucional.
Um arremedo de parlamentarismo num regime presidencialista. 
Tanto que senadores dos quais se esperava uma conduta mais elevada, como Cristovam Buarque, pela sua longa trajetória militante, e Fernando Bezerra Coelho, por ter vivido até anteontem no entorno da presidenta Dilma, se dizem a favor do impeachment "por razões políticas".
Um eufemismo para o desrespeito à Constituição.
Demais, o governo Temer, que se iniciará amanhã, além de carente de legitimidade, antecipa um conjunto de políticas cuja essência é a observância dos ditames do "mercado", que certamente não contribuirão para a retomada do crescimento econômico.
Ou o fará em bases ultra concentradoras da riqueza, da renda e da produção, excluindo parcelas expressivas dos empreendedores médios e pequenos e desalojando do sistema produtivo parte expressiva dos cerca de quarenta milhões de brasileiros que haviam ascendido socialmente nos últimos treze anos.
Sintetizado assim, em poucas linhas, a nova e regressiva cena nacional, tudo converge para um período de intensa luta política e social e não de “paz”.
O butim do poder central se apresenta recheado do que alguns caracterizam como "velha política", fazendo valer a miríade de promessas e compromissos assumidos com a representação parlamentar largamente fisiológica que votou “sim” na Câmara dos Deputados.
Uma espécie de glacê de mau gosto.
O bolo mesmo, este inclui um ajuste fiscal muito mais rigoroso do que o que a Dilma tentou fazer a as oposições não permitiram, sem aumento de impostos, com a permanência de juros elevados e corte radical de despesas públicas, estas consideradas linearmente, de modo a abater em pleno voo programas sociais de largo alcance social e econômico.
Então, se já vínhamos atravessando crise multifacetada - política, econômica, institucional -, fortemente influenciada pela crise global, agora se acrescentarão: no plano interno, contradições e luta de ampla dimensão; e no plano internacional, tremendo arranhão na imagem do Brasil como país democrático.
Através da luta que prosseguirá incontinenti, o momento atual se converterá apenas num capítulo de uma longa, sinuosa e promissora história. 

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