Equipes
precisam achar equilíbrio entre acelerar e cadenciar
Tostão, na Folha
de S. Paulo
Um leitor, que encontrei pelas ruas de Belo Horizonte
perguntou-me, mesmo sabendo que Luan tinha feito
dois belos gols na estreia, se não há um contrassenso do técnico Tiago
Nunes, do Corinthians, que quer um time intenso e que chegue rápido
ao gol, e, ao mesmo tempo, investe em um clássico meia de ligação, mais lento e
de toques curtos.
Pelo contrário.
Além da qualidade individual, Luan será o elo, o equilíbrio
técnico, entre a aceleração em direção ao gol e a lucidez para escolher o
momento certo de atacar.
No Liverpool,
evidentemente um time de muito mais recursos técnicos que o Corinthians, Firmino tem essa função, a de
contraponto entre a troca curta de passes e a intensidade e velocidade do time
em direção ao gol.
Os grandes times atuais e da história têm esse talento, de unir
os dois estilos em um mesmo jogo. O Barcelona dirigido
por Guardiola trocava
muitos passes curtos, até a bola chegar para Messi levá-la rapidamente ao gol. O mesmo
ocorria no Santos,
com Pelé.
A seleção brasileira de 1970 associava a troca curta de passes com os
lançamentos longos nas costas dos defensores, especialmente para Jairzinho.
O Flamengo une os dois estilos, além de usar muito o contra-ataque.
O Flamengo une os dois estilos, além de usar muito o contra-ataque.
Quando falo em contra-ataque, muitos associam com jogar na
defesa. Não é bem assim. O contra-ataque acontece sempre que o time recupera a
bola. Quanto mais perto do outro gol, melhor.
O Flamengo contratou Pedro, um clássico centroavante, que atua
centralizado e se movimenta em pequenos espaços, para receber a bola, finalizar
ou trocar passes curtos. Ele é bem diferente de Gabigol e de
Bruno Henrique, atacantes velozes e hábeis. Com Pedro, o Flamengo
tem mais uma opção estratégica.
A grande dificuldade das equipes que recuam para marcar e
contra-atacar é que, quando recuperam a bola, estão muito longe do outro gol.
Quando o Corinthians tinha para o contra-ataque jogadores como Jadson (em
forma), Rodriguinho e Jô, a equipe marcava e fazia muitos gols. Depois que
perdeu esses jogadores, a bola raramente chegava ao outro gol.
Se o Liverpool ganhar o Campeonato
Inglês e for bicampeão da Europa, vai ficar na história como um
dos grandes do futebol mundial de todos os tempos, se já não é.
O Liverpool está revolucionando o futebol mundial por ser uma
mistura de dois estilos que dominaram os últimos tempos, o do jeito Guardiola
de ser, de muita troca de passes até o gol, e o mais pragmático, de muita
marcação e contra-ataque, muitas vezes, com bolas longas. O Liverpool faz
muitos gols com bolas lançadas da defesa, especialmente pelo zagueiro
Van Dijk,
para aproveitar a velocidade de
Salah e de Mané. Não confundir com os chutões dos times brasileiros.
No Campeonato Brasileiro do ano passado, com exceção de
Flamengo, Santos e Athletico-PR e, em alguns momentos, do Grêmio, as equipes
repetiram os vícios e as práticas das últimas décadas, como as de jogar com os
zagueiros colados à grande área, deixar enormes espaços entre os setores,
especialmente quando o meio-campo avançava, abusar dos chutões e dos
cruzamentos para a área e tantas outras mediocridades.
Time que corre demais e que tenta chegar ao gol de qualquer
jeito é geralmente confuso, afobado e ineficiente.
Time que cadencia demais, troca muitos passes para o lado e
chega pouco ao gol geralmente perde e desencanta. É preciso saber o momento
exato de fazer as coisas.
[Ilustração: Leandro Serpa]
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