Janio de Freitas,
Folha de S. Paulo
"Cala a boca!". "Você tá
falando da tua mãe?" Ainda não foi dessa vez. A repórter e
o colega ficaram impassíveis, tal como outros
jornalistas profissionais têm suportado as reações de Jair
Bolsonaro a perguntas que não pode responder, apesar de legítimas e
necessárias. Mas não está eliminada a possibilidade, um dia qualquer, de que um
repórter não aceite ver sua mãe em frase de moleques, e reaja à altura. Pode
ser outra a frase insultuosa, e sempre será uma situação sem precedente, porém
não exótica.
Nada mais é exótico sob o regime bolsoneiro. Nem por isso é
menor a curiosidade sobre o que sucederá. Certo é que haverá efeitos
importantes. Nenhum deles capaz, por exemplo, de dar explicação satisfatória às
relações comerciais que têm, em uma ponta e na outra, o secretário de
Comunicação da Presidência —Fabio Wajngarten,
empresário chamado a controlar os altos gastos de todo o governo em propaganda.
Esse agressivo mentor de ataques de Bolsonaro à imprensa diz que
a Folha mente, ao noticiar o conflito de
interesses, porque ele deixou o comando da empresa em questão. Mas
não deixará de lado, quando partilhados os lucros, os 95% que tem da composição
societária. Nem o dinheiro público que possa haver, também, no caldeirão dos
ganhos empresariais. Essa é a origem de uma das respostas que Bolsonaro, não
podendo dar aos repórteres, substituiu por insulto de
moleques.
Os jornalistas até têm dado a Bolsonaro oportunidades, não
aproveitadas, para criticar o
jornalismo brasileiro. Ele prefere a falta de razão. Mas sempre se
leu que o excesso de funcionários era um ônus a mais no rombo do INSS.
Afirmação fácil de inúmeros economistas, ingerida, como de praxe, pelos
jornalistas. Esse populoso INSS teve redução recente de 6.000 funcionários. E
parou. Os pagamentos de aposentadorias e pensões estão com atrasos,
desesperadores em muitos casos, e ninguém sabe quando voltarão ao normal. As filas são de
milhares. Há dois meses não são despachadas aposentadorias.
Saíram 6.000, vão dar 30% de extra a 7.000 militares reformados
para um quebra-galho
temporário no instituto, reduzindo-lhe as filas. Por que militares,
que ainda passarão por aprendizado, e não ex-funcionários, só se explica como
outro presente de Bolsonaro à sua turma. E ninguém indaga dele e Paulo Guedes o
que acham ainda, diante do INSS estagnado, da sua política de não substituição
de aposentados no serviço público. Política, por sinal, bem vista na imprensa.
No
estudo "Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no
Brasil", agora divulgado pela Fenaj, a Federação Nacional de Jornalistas,
os ataques a jornalistas e empresas de comunicação aumentaram 54% em um ano, de
135 para 208. Bolsonaro, só
ele, é autor de 58% desses ataques, em pessoa ou pela internet. Tem razão em achar que, para
ele, o insulto é livre. Até prova em contrário.
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