Máquina de mentiras de
Bolsonaro quer enganar seus próprios apoiadores
Bruno Boghossian,
Folha de S. Paulo
Com lorotas fajutas, presidente trata seguidores como se
fossem ingênuos ou idiotas
A turma do governo se emplumou na virada do ano para fazer uma
comparação que parecia impressionante. Auxiliares de Jair Bolsonaro divulgaram
que o custo das viagens do presidente em seu primeiro ano havia sido de R$ 8
milhões, ao passo que Dilma Rousseff havia gastado R$ 483 milhões em 2014.
A intenção era louvar o chefe e sua capacidade de gestão, em
contraste com a gastança desenfreada dos “esquerdopatas”. A ministra Damares
Alves escreveu: “Vamos deixar o povo julgar”. Mas era tudo mentira.
Os governistas emparelharam coisas totalmente diferentes. A
cifra de Dilma englobava os gastos com passagens de todos os servidores do
governo, enquanto o número de Bolsonaro levava em conta só as viagens do
presidente. No ano passado, na verdade, o valor total destinado a passagens foi
de R$ 421 milhões, segundo o Portal da Transparência.
A máquina de propaganda do bolsonarismo se alimenta de mentiras,
informações distorcidas, dados maquiados e comparações esdrúxulas. A função
desse mecanismo não é só confundir o debate público, mas principalmente enganar
os próprios apoiadores do governo.
Em certas situações, o presidente elabora mentiras sob medida
para suas bases. Criticado por seguidores, ele inventou que
sofreria um impeachment se vetasse a destinação de R$ 2 bilhões
para o fundo eleitoral.
A desonestidade chega a níveis ridículos. Na sexta (10), Eduardo
Bolsonaro reclamou que os incêndios florestais
na Austrália não receberam do Instituto Chico Mendes a mesma
atenção dada às queimadas na Amazônia. Não deveria ser preciso explicar que o
órgão ambiental federal não tem nenhuma relação com desastres em outros países.
Bolsonaro e sua equipe não espalham absurdos para fazer com que
seus críticos mudem de ideia. O objetivo é convencer simpatizantes de que o
governo vai bem e fazer com que eles mesmos espalhem essas lorotas de baixa
qualidade. O presidente, nesse caso, trata seus apoiadores como se fossem
ingênuos ou idiotas.
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