A força do coletivo melhora o talento
individual
Alternância de posições é das grandes evoluções do
futebol. Ancelotti prefere ter mais jogadores no ataque e menos no meio-campo
Tostão/Folha
de S. Paulo
No jogo de sábado (15), o Senegal tentou pressionar, marcar mais à frente e chegar ao ataque com muitos jogadores. Por isso, deixava muitos espaços na defesa para os velozes e hábeis atacantes brasileiros.
Nesta
terça (18), contra a
Tunísia, foi diferente. O adversário não adiantava a marcação nem
ficava muito atrás, colado à grande área, o que dificultou para os rápidos e
dribladores atacantes da seleção brasileira.
A
Tunísia, com uma linha de cinco defensores, não deixava espaços entre eles,
porém marcava pouco na intermediária, mas o Brasil não aproveitou. Faltou ao
time brasileiro mais domínio de bola, mais troca de passes no meio-campo.
Com
a entrada de mais um atacante rápido (Vitor Roque), diminuíram ainda mais as
triangulações na intermediária. O Brasil foi um time apressado, com uma má
atuação no empate por 1x1. O único destaque individual foi Estêvão.
Antes,
durante e depois da vitória do Brasil sobre Senegal, o que mais escutei foi a
presença de quatro atacantes na seleção. Parece até que é uma grande novidade.
Mais que isso, para muitos seria uma demonstração de ousadia e de futebol bonito, ofensivo e eficiente.
Não
há nenhuma novidade. É uma das formações mais frequentes nos atuais grandes
times e seleções do mundo. O mais importante é ser bem executado. Não são
quatro atacantes parados na frente esperando a bola. Os quatro se movimentam,
recuam e iniciam a marcação por pressão para tentar recuperar a bola no campo
do adversário. Isso não ocorria na seleção com os treinadores anteriores.
Podem
chamar de 4-2-4, de 4-4-2, de 4-2-1-3 ou de 4-2-3-1. Não faz nenhuma diferença.
É insignificante. Quando o time perde a bola e não dá para recuperá-la
imediatamente, os dois atacantes pelos lados (Rodrygo e Estêvão) voltam para
marcar ao lado dos dois meio-campistas. Além disso, o meia centralizado Matheus
Cunha volta e participa da marcação. Na prática, o time defende com cinco no
meio-campo e avança com quatro atacantes.
Existem
variações. Algumas das principais seleções atuam com um trio no meio-campo.
Marcam com cinco nesse setor: os três no meio e, pelos lados, os dois atacantes
que recuam. A Argentina marca no meio-campo com três e mais um atacante pelo
lado, que volta quando o time perde a bola. Messi e um centroavante ficam mais à
frente.
Os
melhores momentos do Real Madrid com Ancelotti foram
com o trio de meio-campistas formado por Casemiro, Kross e Modric. O técnico
adotou essa formação pela enorme qualidade dos meio-campistas. Na seleção, por
ter maior número de atacantes hábeis, talentosos, ele prefere ter mais jogadores
no ataque e menos no meio-campo.
A
seleção brasileira campeã do mundo de 1994 formava uma linha de quatro no
meio-campo (dois volantes e um meia de cada lado). A crítica à equipe ocorria
porque os dois meias (Mazinho e Zinho) não avançavam quando o time recuperava a
bola, deixando Romário e Bebeto isolados no ataque.
Hoje os atacantes pelos lados voltam rapidamente para marcar e imediatamente
chegam à frente.
Essa
alternância de posições e funções é uma das grandes evoluções do futebol. É a
força do coletivo, que melhora o talento individual. Juntos somos mais fortes.
[Foto: Ian
Kington]
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