18 novembro 2025

Palavra de poeta

Soneto do amor demais
Vinícius de Moraes  

Não, já não amo mais os passarinhos
A quem, triste, contei tanto segredo
Nem amo as flores despertadas cedo
Pelo vento orvalhado dos caminhos.

Não amo mais as sombras do arvoredo
Em seu suave entardecer de ninhos
Nem amo receber outros carinhos
E até de amar a vida tenho medo.

Tenho medo de amar o que de cada
Coisa que der resulte empobrecida
A paixão do que se der à coisa amada

E que não sofra por desmerecida
Aquela que me deu tudo na vida
E que de mim só quer amor - mais nada.

[Ilustração: Anastasiya Matveeva]

Leia também: "A adiada enchente", poema de Mia Couto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_26.html 

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