As denúncias e algo mais mexeram no perfil da Câmara
Sérgio Augusto Silveira*
sergioaugusto_s@yahoo.com.br
O resultado da eleição para vereadores do Recife reelegendo apenas 54 por cento dos atuais ocupantes das 36 cadeiras na Câmara Municipal ? esse resultado deixou cristalino o efeito da denúncia sobre a falsificação de notas de compra, envolvendo grande parte deles.
Para esse efeito, não foi necessário que tal denúncia tivesse ou não fundamentação.
Ela, por si mesma, foi capaz de alterar o perfil do quadro de vereadores da capital. A começar pelo nível de votação bem abaixo do que aconteceu nas eleições de 2004. Quem tinha obtido sete mil votos naquela ocasião, agora viu isso reduzido para quatro mil, em média. Façam uma comparação entre os mapas de votação daquele ano com o de agora. O nível de votação para diversos reeleitos agora foi menor.
Bastou que seu efeito fosse traduzido pelos cidadãos nas urnas, para constatarmos que ele, por exemplo, liquidou com os planos do histórico peemedebista Liberato Costa Júnior em conquistar o seu 12° mandato. Isso está sendo emblemático.
Por falar em peemedebista, outro aspecto que chama a atenção nesses resultados de 2008 é a liquidação das velhas legendas repletas de caciques. É o caso do PMDB, que só elegeu dois vereadores (André Ferreira, concentrador de votos, e Gustavo Negromonte), e o antigo PFL, DEMonizado com a eleição de apenas três nomes. Enquanto isso, esse tal de PHS, cujo nome por extenso quase ninguém sabe, fez quatro vereadores.
No PT, o poderoso secretário municipal Múcio Magalhães abocanhou quase 10 mil votos, enquanto a legenda teve eleitos somente cinco nomes entre o total de 36 vereadores recifenses. É muito pouco em comparação com a tremenda votação e a festa vitoriosa do prefeito petista eleito, João da Costa.
Sem precisar citar outros nomes, além de Liberato, dentre os 46 por cento retirados da Câmara pelo povo, é melhor lembrarmos de um outro efeito interessante e modernizador destas eleições municipais.
Trata-se do aumento do número de mulheres eleitas vereadoras, com a reafirmação do mandato de Priscila Krause, do DEM, e a eleição de duas outras: Aline Mariano, do PSDB, e Marília Arraes, do PSB.
Isso não é qualquer coisa, pois afirma e reafirma a liquidação do tradicional preconceito da nossa sociedade machista. Foi a eleição de uma vereadora a mais do que em 2004, quando, além de Priscila, foi eleita Luciana Azevedo, que dois anos depois deu as costas para o mandato dado pelo povo e foi se aconchegar no Executivo estadual.
No cômputo geral, a eleição de 2008 mandou um recado claro a todos que tiverem ouvidos de ouvir: o eleitorado do Recife, apesar dos vícios de muitos candidatos na busca de votos, mostrou que está atento e disposto a subverter a ordem em nome de mudanças para melhor na vida dos que aqui moram e trabalham. A visível decadência das oligarquias, nas urnas, revela esse tempo novo.
* Jornalista
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