O novo mapa eleitoral e a precipitação indevida
Luciano Siqueira
Nilton Santos, lateral esquerdo do Botafogo do Rio de Janeiro, campeão mundial em 1958 e em 1962 – os menos jovens haverão de lembrar – reunia técnica e rigor tático. Talvez tenha sido, em sua posição, o primeiro a ultrapassar a linha divisória do campo em jogadas ofensivas. Um craque.
Já no fim da carreira, sem fôlego para ir e voltar com a mesma freqüência, passou a jogar de quarto zagueiro e na nova posição destacou-se como exímio marcador de Pelé. Perguntado por um repórter qual o segredo do seu sucesso no enfrentamento do “rei” do futebol, foi direto ao ponto: - Eu me antecipo. Se deixar o negão dominar a bola, não há quem consiga marcá-lo.
Antecipar-se a situações complexas e difíceis – a lição de Nilton Santos – vale para a vida. E para a política.
É o caso do próximo pleito, que a um só tempo porá em causa o poder central, com a sucessão do presidente da República e a renovação do Senado e da Câmara; e o poder político nos estados, com a eleição de novos governadores e deputados estaduais. Uma empreitada de grande envergadura, que exige dos partidos a consideração, desde já, de possíveis cenários; e mais do que isso, trabalho duro tendo em vista a guerra que travarão.
Daí ser importante analisar o mapa dos resultados do último pleito. Cotejar a força acumulada por cada partido, dando o devido peso às capitais e cidades de cem mil habitantes e mais e aos pólos irradiadores de influência econômica e política nas regiões interioranas.
Até aí tudo bem. Mas entre antecipação e precipitação há uma diferença enorme. Vale antecipar hipóteses; não vale precipitar conclusões.
Dois exemplos. Aqui: a chapa majoritária do atual campo governista já estaria praticamente montada, “escolhidos” os candidatos a governador (e a vice, talvez) e às duas vagas de senador – isto com base na vitória alcançada no Recife no primeiro turno e nos resultados da maioria das cidades mais importantes do interior. Alhures: Serra, ao eleger Kassab em São Paulo, seria imbatível para presidente; assim como ao PMDB, por ter feito mais prefeitos que os demais partidos, entre os quais os de Porto Alegre, do Rio de Janeiro e de Salvador, caberia inexoravelmente indicar o vice-presidente numa presumível chapa encabeçada pelo PT.
É aí que a porca enrosca o rabo. Porque daqui para 2010 muita coisa ainda vai acontecer. No Brasil, cuja tradição institucional é marcada pela instabilidade política e pela inconstância e falta de unidade dos grandes partidos, fazer previsões assim tão categóricas é no mínimo chute.
E se Nilton Santos evitava chutar para todos os lados, porque previdente; em matéria de política eleitoral, amigos, também é preciso calma, ir mais a fundo e detectar tendências em gestação a serem confirmadas ou não no futuro.
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