Partidos no fio da navalha
Luciano Siqueira
No nível atual da luta política no Brasil as eleições são a empreitada mais avançada, a que mais exige dos partidos políticos, colocando em causa suas concepções programáticas e seus princípios organizativos.
Nem tanto, dirá o leitor. A maioria dos partidos pouco está se lixando para programa, ideologia e organização. Na prática são legendas através das quais grupos de interesses exercitam a luta por espaços institucionais.
Não deixa de ser verdade. Mas é verdade também que nem todos são assim. Caso do PCdoB, por exemplo, que há oitenta e seis anos toma parte na vida política do país e se mantém fiel à sua base ideológica e teórica, enfrenta problemas táticos imediatos à luz da proposta programática e se renova preservando suas características de partido uno, de estruturado nacionalmente, sob direção única centralizada e de funcionamento disciplinado.
Para um partido dessa natureza o embate eleitoral extrapola em muito a conquista do voto. O Partido se esforça em afirmar-se com suas características próprias, que não pode perder sob hipótese alguma, sob pena de se deformar política e ideologicamente.
E não é um esforço pequeno. O Brasil é imenso, acentuadas são as diversidades regionais e tremenda a pressão localista típica da nossa história institucional, reflexo de particularidades de cada lugar e de uma tradição de agremiações partidárias tipo mosaico (aglomerado de grupos regionais).
No pleito municipal que se completará domingo próximo, o PCdoB foi chamado a tomar decisões delicadíssimas em relação a quem apoiar no segundo turno em cidades em que candidatos próprios não obtiveram êxito. “Nós tomamos a posição, no segundo turno, levando em conta a exclusão: se esse nós não podemos apoiar, apoiamos o outro”, explicou o presidente nacional Renato Rabelo em entrevista ao portal Vermelho. “São feitos termos de compromisso em que apresentamos questões programáticas que são encampadas pelos candidatos”, completou.
Ou seja, o Partido tem lado e compromisso com o povo da cidade. Ao mesmo tempo, presta atenção às relações entre a disputa local e a cena política nacional, considerando a parte à luz do processo político de conjunto. Daí porque alianças locais em capitais e cidades de maior porte e de importância política relevante precisam ser referendadas pela direção nacional. Não pode haver plena liberdade de decisão por parte das direções municipais, invertendo a relação entre o centro dirigente e as organizações periféricas que o apóiam aplicando localmente a orientação geral.
Terminada a guerra, o balanço é muito positivo – pelas vitórias conquistadas e pela fidelidade aos preceitos estatutários e programáticos.
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