18 fevereiro 2009

Meu artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (JC Online)

A crise, as queixas de Lula e o emprego
Luciano Siqueira


Em sua recente passagem por Salgueiro e Recife, o presidente Lula se queixou do empresariado brasileiro a quem acusa de dispensar trabalhadores além da conta usando como pretexto a crise. Segundo ele, se determinados setores industriais, por exemplo, vem recebendo apoio governamental não deveriam reduzir a força de trabalho empregada, ainda que amargando relativa redução de sua taxa de lucro.

É preciso, entretanto, ir além do sentimento de frustração do presidente. Pois o que aqui acontece é reflexo do fenômeno que assola a economia mundial a partir do seu epicentro situado nos EUA. O desemprego não é mero efeito natural da crise. Faz parte de toda uma engrenagem própria do sistema capitalista e que retorna sempre que nem sinal clínico intermitente em doente grave.

Há hoje duas faces da economia capitalista que se entrecruzam e guardam entre si relação contraditória – a economia produtiva, dita real; e a ciranda financeira, dita virtual.

Na economia produtiva o bloqueio da circulação do capital resulta de uma espécie de superprodução relativa de mercadorias – quando a produção excede em muito a capacidade de consumo da sociedade. De modo simplificado esta é a essência de todas as crises cíclicas do sistema.

Na economia dita virtual, que expressa a enorme defasagem entre a produção real e os registros contábeis estratosféricos de capital fictício, o capital tem interrompido a sua circulação com a restrição abrupta do crédito e de outras modalidades de investimento financeiro.

As duas coisas acontecem simultaneamente hoje no mundo, puxadas pela débâcle financeira.

Nesse ambiente econômico restritivo, cai substancialmente a taxa média de lucro e o empresariado é levado a reduzir custos de todas as maneiras possíveis. Começa dispensando seus empregados. E é aí que o desemprego converte-se a um só tempo em conseqüência e causa. Diminui a capacidade real (e não apenas a vontade subjetiva) de consumo dos trabalhadores; aprofunda o fosso entre a produção e consumo.

Daí que o governo precisa associar a garantia do emprego ao conjunto das medidas de socorro aos setores produtivos de nossa economia. Não basta flexibilizar a cobrança de tributos e facilitar o crédito; é preciso exigir como contrapartida a permanência dos empregados em seus postos de trabalho. Pois é óbvio que não se estimula o consumo e a produção num cenário de desemprego crescente.

Moral da história: ao Estado cabe como resposta à crise defender o emprego como condição sine qua non da eficácia da ajuda ao empresariado – sob pena de tão somente contribuir para aumentar a concentração da riqueza, a semidestruição das forças produtivas e a exclusão de parte substancial da força de trabalho.

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