13 fevereiro 2009

Meu artigo semanal no site da Revista Algomais

Quem não gosta do Bolsa Família?
Luciano Siqueira

Certa vez dois amigos radialistas tomavam um chope no Bar Savoy, no centro do Recife, por volta de meio-dia, quando foram abordados por um mendigo que pedia alguns centavos para comprar um pão. – “Não posso, amigo, se você comer um pão agora vai perder o apetite para o almoço”, respondeu o mais espirituoso (e cínico), provocando risos entre os presentes.

A piada de péssimo gosto e nenhum respeito para com o sofrimento do miserável, mutatis mutandis, como dizem os juristas, é mais ou menos o mesmo que andam dizendo oposicionistas nada sensíveis ao drama da população mais pobre.

No finzinho de janeiro o governo federal anunciou a elevação do teto da renda máxima por família atendida pelo Bolsa Família – de R$ 120 para R$ 137 – como uma correção inflacionária e a inclusão de mais 1,8 milhão de famílias no programa. De imediato parlamentares de oposição levantaram a voz em protesto com o argumento de que o programa é um instrumento que pode garantir a liquidez e o consumo nas camadas mais baixas, mas não é capaz de dar conta das pressões recessivas da economia. O benefício, segundo eles, apenas fomenta o consumo de curto prazo na medida em que os beneficiários encontram dificuldade de inserção imediata no mercado produtivo (subestimam o incremento das pequenas economias locais e desconhecem que quase 2 milhões de pessoas já conseguiram sair do programa desde a sua origem).

O mesmo que negar o pão ao faminto sob o pretexto de que assim ele se desmotivaria para degustar a refeição completa!

Nessa linha, o líder do Democratas no Senado, José Agripino, reclamou: “O investimento na questão social é meritório. Mas como um dia se corta R$ 37 bilhões e no dia seguinte se anuncia uma ação social? Estamos à beira de um processo recessivo, causa perplexidade e se impõe uma resposta à sociedade: o dinheiro vem de onde?”

Segundo ele, o governo estaria desperdiçando recursos públicos. Algo comparável aos milhões advindos da flexibilização do compulsório que beneficiou os bancos? Ou aos igualmente volumosos valores ofertados como socorro a grandes setores industriais em momentânea dificuldade? Nada disso. O Bolsa-Família paga para as famílias consideradas extremamente pobres um benefício fixo de R$ 95. E mais R$ 20 por criança entre 0 e 15 anos, em um limite de três por família, e mais R$ 30 por jovem de 16 e 17 anos, em um máximo de dois. O orçamento do Bolsa Família em 2009 está fixado em R$11,8 bilhões.

Moral da história: quando se trata de atender as necessidade dos mais pobres, não faltam argumentos técnicos supostamente zelosos dos recursos púbicos. Mas quando se trata de socorrer bancos e grandes empresas, tudo bem; nenhuma palavra contra.

Um comentário:

Roberta disse...

Adorei este artigo...mostra o pensamento da "cla$$e dominante". Certa vez, entrei numa discussão com uma amiga onde criticava a Gestão de João Paulo, pois falava das ruas emburacadas do espinheiro e casa forte. Mas lembrei a ela que essa gestão priorizava os mais necessitados e que estes, não utilizam carros e muito menos nestas áreas. Mas pedi a ela pra procurar ver as casas populares e alguns morros/altos da cidade, quantas mudanças significantes ocorreram...ela não acreditou mas porque nunca nem procurou sequer olhar para este lado "miserável"...como ums outra amiga diz...povinho "classe merda"...precisamos mudar essa sociedade...