No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Os Males das chuvas
O presidente Lula declarou que vai editar uma Medida Provisória, para socorrer o Nordeste das chuvas que caem sistematicamente sobre a região, que já causaram prejuízos de mais de um bilhão de reais, afetaram mais de um milhão de pessoas, principalmente nas periferias e favelas.
Trata-se de uma iniciativa justa. No entanto, a verdade é que as grandes cidades nordestinas, incluindo as capitais dos Estados, padecem de um mal crônico cuja origem vem, principalmente, do processo que culminou com a vitória da revolução de 1930 no Brasil. Revolução essa que deflagrou um salto na modernização e na industrialização do País. Mas que foi também uma modernização conservadora, incompleta e inacabada.
Dessa maneira o Brasil viu-se dividido em dois. Um deles com relações sociais e de produção atrasadas, submetido a formas superadas tanto nas bases do desenvolvimento quanto nos aspectos da superestrutura, principalmente nos mandos do poder.
Através de mecanismos perversos, com muito sofrimento, grande parte da zona rural do Nordeste foi superando o atraso e grandes áreas foram sendo modernizadas, incluindo o setor do açúcar e álcool etanol. Até que a modernização industrial tornou-se um fato nos sertões de Graciliano Ramos, na zona da mata de José Lins do Rego. Das paisagens de Vidas Secas e do Menino de Engenho.
Mesmo assim as alterações foram, consciente, proposital e calculadamente, lentas, seguras e graduais. É claro que essas áreas transformaram-se em focos de conflitos políticos e sociais intensos e permanentes. Constituiu-se uma cultura política do Coronel que mandava em seu feudo tal como os Capos da velha Sicília. As elites da época, e até os dias atuais, foram combinando, concertando entre si o velho e o novo, ajustando-se no poder.
Fazendo certas concessões aos representantes da emergente classe média e em menor número, do proletariado, sem deixarem de usar instrumentos de cooptação política. Essa é uma das razões que produziram os hábeis, competentes, Caciques nordestinos da política nacional.
Como resultante de tudo isso, nas últimas cinco décadas, em ondas sucessivas, as capitais do Nordeste e de todo o Brasil, se entupiram de desempregados pendurados nos morros, miseráveis, fábricas de bandidos, de traficantes etc. Uma dívida econômica e social brutal. Há também, se quiserem, os males das chuvas.
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