19 setembro 2011

Comportamento tático cauteloso e consequente

“Opção tática é apenas isso”
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

“Apenas”, no caso é um termo inadequado, pois a tática é a alma da política e, portanto, não é pouco, é quase tudo. Mas o emprego aqui na intenção de grifar que é irrecusável, em qualquer situação, considerar mais de uma alternativa, ainda que haja fortes indicações em favor de uma. Apenas isso.

Para dizer de uma maneira simplificada, recorro a Tancredo Neves que recomendava ter sempre uma porta de saída, ou pelo menos uma janela, para uso caso a situação se modificasse substancialmente.

No atual período pré-eleitoral, nem cabe determinar com tanta antecedência a tática a ser seguida, nem tampouco excluir opções diversas. Por essa razão, por exemplo, a Conferência Municipal do PCdoB no Recife, recentemente realizada, aprovou resolução política na qual sopesou cada palavra no que se refere ao pleito majoritário do ano vindouro. “Considerando que o cenário das eleições de 2012 ainda está por se desenhar e importantes variáveis passarão a atuar a partir dos primeiros meses do ano vindouro, o PCdoB prioriza, nas atuais circunstâncias, a construção da unidade em torno de uma candidatura majoritária única, sem entretanto descartar nenhuma outra alternativa tática que venha a ser pactuada na Frente Popular”, assinala o documento.

Note-se que o ponto de partida é a percepção de que se deve priorizar, “nas atuais circunstâncias”, a opção por uma candidatura única a prefeito, que unifique a ampla coalização que dá sustentação ao governo João da Costa – podendo ser a do próprio prefeito ou outro nome, à escolha do PT, que tem a precedência para indicar, conforme consenso tácito dos demais partidos coligados.

Entretanto, fiel ao seu pensamento dialético, os comunistas também se comprometem a examinar outra opção tática, “que venha a ser pactuada na Frente Popular”. Ou seja: não se trataria de dividir a Frente Popular, mas se poderia adotar flexões em relação à postura inicial de comum acordo com o conjunto dos partidos aliados.

Assim, cabe afirmar que “opção tática é apenas isso” – e não o anúncio prévio de qualquer intenção de desarrumar o time que está jogando e que, em sua atual conformação, reúne amplas condições de vencer.

Aferrar-se a uma posição posta em definitivo a nove meses das convenções partidárias, que devem acontecer um junho de 2012, seria uma temeridade. A política é a expressão institucional da vida como ela é – e a vida dá muitas voltas, ensina a sabedoria popular. Pensar dialeticamente é, portanto, uma imposição da realidade – sobretudo quando se trata de problema tático, que depende de muitas variáveis, entre as quais o comportamento do adversário e, especialmente, a correlação de forças em presença no momento das decisões.

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