A nova classe média e o dilema da oposição
Luciano Siqueira
Para o Blog de Revista Algomais
O tema ganhou destaque nas hostes oposicionistas a partir de uma intervenção recente de Fernando Henrique Cardoso, preocupado com o fosso entre o PSDB e a maioria da população. O foco do ex-presidente é a atração da denominada a classe média, extrato social em expansão desde os anos Lula e de enorme peso eleitoral.
Mas há um obstáculo muito difícil de ser transposto pelo bloco oposicionista: o contraste entre a sua visão de Brasil e de condução da economia e as necessidades objetivas e os anseios da grande classe média brasileira.
Ora, dirão alguns, em política tudo é possível. Partidos mudam, evoluem e ajustam seus programas à realidade. Em tese isso é verdade. Mas não é o que acontece com o bloco demo-tucano, a julgar pelo enfático pronunciamento crítico de seus líderes mais proeminentes no Congresso Nacional, dias atrás, diante da decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) em reduzir em 0,5% a taxa básica de juros (Selic). Ou seja, o compromisso com o setor rentista (grande capital financeiro) e a realimentação da usura em prejuízo da produção coloca a oposição na contramão dos interesses da maioria dos brasileiros, que necessita superar entraves macroeconômicos (a política de juros altos entre eles) para alcançar o pleno desenvolvimento do país.
Vejamos. Usando as categorias adotadas em pesquisas mercadológicas, estima-se que a classe C – pessoas com renda mensal familiar entre R$ 1 mil e R$ 4 mil - corresponde hoje a mais da metade da população do país, segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). São 95 milhões de brasileiras e brasileiros, sobretudo jovens com emprego formal, alto potencial de consumo e que, mediante um aumento superior a 40% em sua renda familiar, adquiriu poder de compra, acesso à tecnologia e ingresso em escolas de nível superior.
Esse segmento social, acrescido em quase trinta milhões de pessoas durante o governo Lula – atestam as pesquisas quantitativas e qualitativas –tem um comportamento entusiasta face às novas condições de subsistência alcançadas e ao mesmo tempo receoso quanto ao risco de uma mudança nos rumos atuais do país. Tende a formar o que os pesquisadores chamam de “núcleo duro” de intenção de votos em favor das forças que governam na atualidade.
Desse modo, não fácil aos que se opõem ao governo construir um discurso compreensível e aceitável por essa nova classe média, e pelos trabalhadores em geral, sequiosos da sustentabilidade do atual ciclo de expansão das atividades econômicas, das oportunidades de trabalho e do nível de renda.
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