22 setembro 2011

Redução da pobreza no Brasil

Números que desafiam o preconceito
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho http://www.vermelho.org.br/

Era ainda vice-prefeito do Recife quando numa solenidade em que se proclamavam resultados positivos numa instituição vinculada à saúde, agressivo discurso de um grande empresário pernambucano contra as políticas de inclusão social adotadas no governo Lula soou destoante no ambiente. Dizia ele que com o Bolsa Família, o Luz para Todos e assemelhados se fazia caridade com dinheiro público, ao invés de reduzir a carga tributária e proporcionar ao empresariado incremento em seus negócios e, por conseguinte, a ampliação da oferta de oportunidades de trabalho.

Como não era esse o foco da solenidade, evitei o confronto aberto, mas fiz considerações em sentido contrário.

Nessa mesma linha o atual senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco, havia se pronunciado quando da inauguração do comitê eleitoral do então candidato à presidência da República, Geraldo Alkmin, chamando o Bolsa Família de “safadeza do PT” (conforme noticiado pelo Jornal do Commercio). Denunciei na TV, no programa eleitoral, o que me rendeu três tentativas de me tirar do ar, por ele encaminhadas ao TRE, sem êxito.

Puro preconceito – para com o presidente operário e em relação às politicas públicas inclusivas. Como se a fome não devesse estar na pauta do governo.

Há poucos dias atrás, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou estudo intitulado Mudanças Recentes na Pobreza Brasileira, segundo o qual 26 milhões de brasileiros saíram dessa faixa entre 2004 e 2009. A desigualdade de distribuição de renda no Brasil diminuiu 5,6% e a renda média real subiu 28% entre 2004 e 2009.

O Ipea reconhece que para tanto contribui de modo importante o Bolsa Família, mas adverte que o programa não garante a ascensão social de seus beneficiados. Melhora a vida de muita gente submetida a condições ultra precárias de existência, daí a importância de uma porta de saída através da qual as pessoas assistidas possam ingressar no mercado de trabalho e melhorar sua renda.

Não é por outra razão que no caso do Nordeste, conforme assinalou recentemente em debate no Recife a professora Tânia Bacelar, estudiosa da questão regional, além do Bolsa Família pesa de maneira substancial para o crescimento rápido e abrangente do mercado consumidor interno o aumento do valor real do salário mínimo.

O fato é que programas sociais entrelaçados com o crescimento real das atividades econômicas são responsáveis pelos números divulgados pelo Ipea, que são muito significativos. O percentual de pessoas com renda mensal igual ou maior do que um salário mínimo per capita – consideradas não pobres – se alterou de 29% para 42%. Isso quer dizer que o número de pessoas dessa faixa aumentou de 51,3 milhões para 77,9 milhões no período.

Já a camada composta por famílias com renda per capita, à época, entre R$ 67 e R$ 134, diminuiu de 28 milhões para 18 milhões (classificada como pobre) e os “extremamente pobres (com renda per capita inferior a R$ 670) caíram de 15 milhões para 9 milhões”.

O argumento preconceituoso desaba diante de números tão exuberantes.

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