No Estaleiro, a voz dos que querem repartir a riqueza
Luciano Siqueira
Para o Blog da Revista Algomais
Qual crescimento? A pergunta é feita invariavelmente em todos os debates a que tenho comparecido acerca do atual estágio da economia pernambucana e suas perspectivas. E faz todo sentido, pois sem distribuição de renda, valorização do trabalho e sustentabilidade ambiental o crescimento econômico não promove o progresso social desejado.
No Complexo Portuário e Industrial de Suape nem tudo é progresso. Ou, dito de outro modo, o progresso ameaça beneficiar alguns e prejudicar muitos. No caso, os trabalhadores correm o risco de verem reeditadas – guardadas as evidentes proporções – as condições de trabalho e de remuneração da Primeira Revolução Industrial. Mas não pretendem lutar contra as máquinas; voltam-se contra os detentores delas para reclamar direitos.
A recente greve dos operários do Estaleiro Atlântico Sul teve esse significado. Fez-se um acordo, dando a azo a que o movimento refluísse. Mas ficou o alerta.
Em aparte a pronunciamento do deputado Betinho Gomes sobre o assunto, na Assembleia Legislativa, sugeri que a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos faça visita ao Complexo Portuário de Suape para verificar, in loco, as condições a que estão submetidos os trabalhadores do Estaleiro Atlântico Sul e, se possível, de outras unidades industriais. A visita será feita.
Importa que a reindustrialização do estado tenha curso na envergadura que hoje assume, configurando novo ciclo de desenvolvimento inédito em sua dimensão. Dá-se, em verdade, autêntica revolução da matriz produtiva do estado. Expandem-se as oportunidades de trabalho, incrementam-se cadeias produtivas essenciais à sustentabilidade econômica do que hoje ocorre. Mas isso não pode acontecer ao sacrifício das relações de trabalho.
É absolutamente inaceitável que empresas de grande porte pratiquem aqui relações com seus trabalhadores muito aquém do que praticam em suas sedes. Como se o operário nordestino (e o que aqui acorre em busca de trabalho) fosse cidadão de segunda categoria, descredenciado a ter seus direitos fundamentais respeitados. Inaceitável por parte dos trabalhadores, dos seus sindicatos e instituições (como a representação local do Ministério do Trabalho e Emprego e a Justiça do Trabalho), direta ou indiretamente envolvidas com a questão. A Assembleia Legislativa há que tomar parte na apreciação do problema.
Lastima-se, nesse contexto, que a representação sindical da categoria esteja a anos luz de distância dos seus representados e opte por um tipo de negociação com o patronato que em nada ajuda a construir soluções consistentes, para ambas as partes. Mas, com o andar da carruagem, certamente os trabalhadores se farão melhor representar e as empresas haverão de compreender que aqui, como alhures, respeitar direitos tem a ver com produção e produtividade.
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