A UNE onde sempre esteve
Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Na vida cotidiana, ninguém suporta o sujeito que é do contra em qualquer situação. “De mal com a vida”, rotula-se como espécie de sinal para que se mantenha distância. Contamina o ambiente de trabalho, a vida familiar e o bate papo no botequim.
Mais do que uma chatice, o ser do contra em qualquer circunstância é um equívoco, pois nada é inteiramente errado ou certo. E é sempre recomendável não fechar os olhos ao que há de positivo, sob pena de uma análise unilateral, preconceituosa e distorcida da realidade. E em prejuízo da luta para mudar o que deve ser mudado.
No mundo da política é um veneno mortal. Conduz a conclusões que em nada servem de orientação a quem deseja fazer um juízo de valor dos acontecimentos e tirar consequências práticas.
O comportamento atual da União Nacional dos Estudantes (UNE) tem sido alvo sistemático desse modo parcial de analisar os fatos. Recorrentemente “analistas” da grande mídia tentam impor à entidade universitária dos estudantes brasileiros a pecha de “chapa branca”, insinuando adesão ao governo. Nada mais falso.
Na verdade, a UNE, a exemplo da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) e outras entidades do gênero, guardam em relação ao governo uma postura ao mesmo tempo propositiva e crítica. Reconhecem e apoiam programas e medidas acertadas – porque sintonizadas com históricas e atuais bandeiras de luta dos estudantes -, e também criticam e protestam, quando há desacordo entre as políticas públicas e os interesses fundamentais da juventude estudantil. E alevantam a voz em defesa de solução para os problemas estruturais da educação.
Como acontece com as grandes manifestações de rua recentemente realizadas e a Carta aos Estudantes Brasileiros, divulgada no último 7 de setembro, assinada conjuntamente pela UNE, UBES e ANPG (Associação Nacional de Pós Graduandos), que reivindica uma reforma política ampla, que fortaleça a democracia e a participação popular e combata a corrupção e os privilégios de poucos. E conclama os estudantes a irem às ruas para recolher milhões de assinaturas pelos 10% do PIB e 50% do Pré-sal para a educação.
A Carta concita “a juventude brasileira a ocupar cada vez mais espaços, físicos e virtuais, nas ruas, nas escolas, nas universidades, na internet e nas redes sociais, sensibilizando a sociedade brasileira e pressionando todos os governos para aprofundar e ampliar as mudanças necessárias ao país”.
A UNE, portanto, está onde sempre esteve – de bem com a vida e com a luta democrática e popular. Quando apoia, não adere; quando critica, protesta e propõe, não se perfila inexoravelmente nas hostes oposicionistas (como desejam seus críticos). Antes revela maturidade consentânea com a quadra que o País atravessa, de mudanças sociais, econômicas e políticas de relevo – que para serem impulsionadas precisam, sim, do co-protagonismo consequente do movimento estudantil.
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